Foto: Envato Elements
Por Beatriz Duranzi
[email protected]A hipertensão arterial, muitas vezes silenciosa, afeta aproximadamente um terço da população mundial e representa o principal fator de risco para infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e doenças renais crônicas. Além desses quadros, a pressão alta também está relacionada a arritmias, insuficiência cardíaca e até declínio cognitivo progressivo.
Apesar de campanhas de saúde focarem majoritariamente na redução do consumo de sódio, um estudo recente da Universidade de Waterloo, no Canadá, propõe um caminho complementar e promissor: aumentar a ingestão de potássio na dieta diária pode ser ainda mais eficaz para o controle da pressão arterial.
O trabalho, publicado na American Journal of Physiology – Renal Physiology, destaca como potássio e sódio têm efeitos biológicos opostos no organismo. Enquanto o sódio promove retenção de líquidos e eleva a pressão arterial, o potássio auxilia na excreção de sódio pelos rins e contribui para o relaxamento dos vasos sanguíneos, facilitando a circulação.
A coautora do estudo, Anita Layton, professora de matemática aplicada e engenharia biomédica na Universidade de Waterloo, explica que adicionar alimentos ricos em potássio, como banana, brócolis e vegetais folhosos, pode ter um efeito mais significativo na redução da pressão arterial do que apenas cortar o sal da alimentação.
Os pesquisadores criaram um modelo matemático para estudar os efeitos da proporção entre potássio e sódio no corpo humano. Os resultados sugerem que aumentar a ingestão de potássio pode reduzir a pressão arterial mesmo quando o sódio ainda está presente na dieta, uma abordagem mais prática e, muitas vezes, mais eficaz.
A interação entre sódio e potássio no organismo é antiga e complexa. Os dois minerais são ingeridos através dos alimentos em suas formas iônicas (eletricamente carregadas), agindo como eletrólitos essenciais na condução de impulsos nervosos, contração muscular e regulação da água corporal.
No corpo, o sódio se concentra no fluido extracelular, enquanto o potássio predomina dentro das células. A proporção ideal entre esses elementos é fundamental, mas a dieta ocidental contemporânea, rica em alimentos ultraprocessados e pobres em frutas e vegetais, criou um desequilíbrio que favorece a hipertensão.
Melissa Stadt, doutoranda e autora principal do artigo, aponta que os sistemas biológicos humanos evoluíram com base em dietas naturais ricas em potássio e pobres em sódio. Isso ajuda a explicar por que nosso corpo funciona melhor quando essa proporção é respeitada.
O modelo matemático desenvolvido também revelou diferenças importantes entre os sexos. Homens tendem a desenvolver hipertensão com mais facilidade do que mulheres antes da menopausa, mas respondem melhor ao aumento da proporção de potássio na alimentação.
Segundo os pesquisadores, isso pode estar ligado às variações hormonais e à capacidade feminina de excretar sódio com mais eficiência antes da menopausa, o que ajuda a manter a pressão sob controle por mais tempo.
O estudo reforça que o papel do potássio vem sendo subestimado nas diretrizes alimentares voltadas ao controle da hipertensão. Os autores esperam que as evidências oferecidas pelo modelo matemático sirvam como base para novas estratégias de prevenção e tratamento da pressão alta, com foco em orientações nutricionais mais equilibradas e eficazes.
Os pesquisadores sugerem ainda que campanhas de saúde pública incluam o incentivo ao consumo de alimentos naturais ricos em potássio, em vez de focar apenas na redução do sal. Essa mudança pode ajudar milhões de pessoas a evitarem a hipertensão, além de protegerem seu coração com uma simples, e poderosa, mudança no prato.
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