Obesidade já atinge mais crianças do que a desnutrição no mundo, diz Unicef

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No Brasil, a obesidade superou a desnutrição como o tipo de má nutrição mais comum desde antes do ano 2000
Por Bianca Bibiano bianca.bibiano@viva.com.br

Publicado em 11/09/2025, às 08h43

São Paulo, 11/09/2025 - A obesidade superou a desnutrição como a forma mais prevalente de má nutrição em 2025, afetando 1 em cada 10 crianças e adolescentes em idade escolar. Isso equivale a cerca de 188 milhões de casos, colocando esse grupo em risco de doenças graves.

É o que alerta o novo relatório do Unicef "Alimentando o Lucro: Como os Ambientes Alimentares estão Falhando com as Crianças”. O levantamento baseia-se em dados de mais de 190 países e revela que a prevalência de desnutrição entre crianças de 5 a 19 anos caiu desde 2000, de quase 13% para 9,2%, enquanto as taxas de obesidade aumentaram de 3% para 9,4%. A obesidade agora supera a desnutrição em todas as regiões do mundo, exceto na África Subsaariana e no Sul da Ásia.

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Segundo o relatório, vários países das Ilhas do Pacífico apresentam as maiores taxas de obesidade do mundo, incluindo 38% dos jovens de 5 a 19 anos em Niue, 37% nas Ilhas Cook e 33% em Nauru. Esses níveis dobraram desde 2000, impulsionados principalmente pela substituição da alimentação tradicional por alimentos importados, baratos e altamente calóricos, ultraprocessados.

Enquanto isso, muitos países de alta renda continuam apresentando altos índices de obesidade. Por exemplo, 27% das crianças, adolescentes e jovens de 5 a 19 anos no Chile vivem com obesidade, 21% nos Estados Unidos e 21% nos Emirados Árabes Unidos.

No Brasil, a obesidade superou a desnutrição como o tipo de má nutrição mais comum desde antes do ano 2000. Naquele ano, o percentual de crianças e adolescentes brasileiros de 5 a 19 anos com obesidade era de 5%. Esse número triplicou até 2022, quando chegou a 15%. Já o número de meninos e meninas em desnutrição aguda (baixo peso para altura) diminuiu de 4% para 3% no mesmo período. O percentual de crianças e adolescentes com sobrepeso no País também cresceu, dobrando de 18%, em 2000, para 36% em 2022.

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“Quando falamos de má nutrição, não estamos mais falando apenas de crianças com baixo peso”, disse Catherine Russell, Diretora Executiva do Unicef. "A obesidade é uma preocupação crescente que pode impactar a saúde e o desenvolvimento das crianças. Os alimentos ultraprocessados estão substituindo cada vez mais frutas, vegetais e proteínas, justamente quando a nutrição desempenha um papel crítico no crescimento, desenvolvimento cognitivo e saúde mental das crianças."

Para determinar que a obesidade superou o baixo peso entre crianças de 5 a 19 anos, o Unicef projetou a prevalência a partir de 2022, com base nas tendências de obesidade e desnutrição entre 2010 e 2022.

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Segundo os dados mais recentes, 1 em cada 5 crianças e adolescentes de 5 a 19 anos no mundo (cerca de 391 milhões) está acima do peso, sendo que uma grande parte já é classificada como vivendo com obesidade.

O documento explica que crianças são incluídas nessas classificações quando estão significativamente acima do peso considerado ideal para sua idade, sexo e altura. Nesse sentido, a obesidade é classificada uma forma grave de excesso de peso e aumenta o risco de desenvolver resistência à insulina, pressão alta e doenças graves ao longo da vida, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e certos tipos de câncer.

O risco dos alimentos para a obesidade infantil

O relatório alerta que alimentos ultraprocessados e fast foods, que são ricos em açúcar, amido refinado, sal, gorduras não saudáveis e aditivos, estão moldando a dieta das crianças por meio de ambientes alimentares prejudiciais. Aponta também que esses produtos dominam comércios e escolas, enquanto o marketing digital dá à indústria de alimentos e bebidas acesso poderoso ao público jovem.

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Por exemplo, em uma pesquisa global com 64 mil jovens de 13 a 24 anos de mais de 170 países, realizada no ano passado pela plataforma U-Report do Unicef, 75% dos entrevistados disseram ter visto anúncios de refrigerantes, lanches ou fast foods na semana anterior, e 60% afirmaram que os anúncios aumentaram sua vontade de consumir esses alimentos. Mesmo em países afetados por conflitos, 68% dos jovens disseram estar expostos a esses anúncios.

No Brasil, embora as escolas proíbam alimentação não saudável em cantinas escolares, o acesso a esses alimentos não é sempre fiscalizado. Ainda assim, o estudo destaca a importância da progressiva restrição da compra de ultraprocessados no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), além dos esforços para restringir a propaganda de alimentos não-saudáveis para crianças, implementar a rotulagem frontal e banir as gorduras trans em alimentos industrializados. 

Medidas para conter o avanço da obesidade

Para transformar os ambientes alimentares e garantir que as crianças tenham acesso a alimentos saudáveis, o Unicef orienta governos, sociedade civil e parceiros a:

  • Implementar políticas abrangentes e obrigatórias para transformar os ambientes alimentares para crianças e adolescentes, incluindo rotulagem de alimentos, restrições à publicidade e impostos/subsídios sobre alimentos;
  • Implementar iniciativas sociais e de mudança de comportamento que empoderem famílias e comunidades a exigir ambientes alimentares mais saudáveis;
  • Proibir a oferta ou venda de alimentos ultraprocessados e industrializados nas escolas, bem como a publicidade e o patrocínio de alimentos nesses ambientes;
  • Estabelecer salvaguardas rigorosas para proteger os processos de políticas públicas da interferência da indústria de alimentos ultraprocessados;
  • Reforçar programas de proteção social para combater a pobreza monetária e melhorar o acesso financeiro a alimentos saudáveis para famílias vulneráveis.

“Em muitos países, estamos vendo a dupla carga da má nutrição, com a existência simultânea da desnutrição e da obesidade. Isso exige intervenções e políticas específicas”, disse Russell. “Alimentos saudáveis e acessíveis devem estar disponíveis para todas as crianças, para apoiar seu crescimento e desenvolvimento. Precisamos urgentemente de políticas que apoiem pais e cuidadores a acessarem alimentos saudáveis e nutritivos para seus filhos”, conclui.

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