Foto: Envato Elements
Por Beatriz Duranzi
[email protected]São Paulo, 30/06/2025 - Uma descoberta promissora feita por cientistas brasileiros pode abrir caminho para um novo tratamento contra o câncer de mama. Pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FCFRP-USP), em colaboração com instituições da Amazônia, identificaram uma molécula presente no veneno do escorpião Brotheas amazonicus com ação potente contra células tumorais. A substância demonstrou eficácia comparável à de quimioterápicos já utilizados no combate à doença.
Os resultados preliminares foram apresentados durante a Fapesp Week França, evento realizado entre os dias 10 e 12 de junho na cidade de Toulouse, sul do país. Segundo a professora Eliane Candiani Arantes, coordenadora do estudo, a substância, batizada de BamazScplp1, se destacou por induzir necrose nas células do câncer de mama, um tipo de morte celular semelhante ao que é provocado por medicamentos como o paclitaxel, amplamente usado na oncologia.
A pesquisa é fruto de um trabalho de bioprospecção, que busca identificar moléculas bioativas em organismos da biodiversidade brasileira com potencial farmacológico. No caso do Brotheas amazonicus, espécie comum na região amazônica, os cientistas encontraram uma toxina com propriedades antitumorais notáveis.
“O que observamos foi uma resposta citotóxica relevante em culturas de células de câncer de mama, o que nos leva a acreditar que essa molécula pode se tornar base para o desenvolvimento de um novo fármaco”, explicou Arantes em entrevista à Agência Fapesp.
Além disso, o grupo pretende utilizar expressão heteróloga, técnica em que genes de interesse são inseridos em organismos como leveduras para produção em larga escala, para sintetizar essa toxina em laboratório, o que facilitaria estudos avançados e testes clínicos futuros.
O estudo integra os projetos do Centro de Ciência Translacional e Desenvolvimento de Biofármacos (CTS), vinculado ao Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos (Cevap) da Unesp de Botucatu, com financiamento da Fapesp. O mesmo centro já é responsável por desenvolver, por exemplo, o selante de fibrina, uma espécie de "cola biológica" produzida a partir de venenos de serpentes e usada na medicina regenerativa.
A proposta da equipe agora é integrar os conhecimentos obtidos com escorpiões e serpentes para desenvolver medicamentos inovadores, inclusive com aplicações que vão além da oncologia, como cicatrização de nervos e recuperação após lesões na medula espinhal.
Enquanto isso, outros grupos de pesquisa no Brasil, como o CancerThera, sediado em Campinas (SP), avançam em abordagens terapêuticas integradas, que unem diagnóstico e tratamento por meio de radioisótopos. Essa tecnologia, já usada na Europa, permite identificar tumores com alta precisão e, em seguida, tratá-los com radiações localizadas, ampliando a eficácia e reduzindo os efeitos colaterais.
Há também iniciativas de imunoterapia personalizada, como a "vacina contra o câncer" desenvolvida na USP, que utiliza células dendríticas para estimular o sistema imunológico a atacar tumores. E em Toulouse, pesquisadores testam o uso de inteligência artificial na ressonância magnética para prever o comportamento de tumores cerebrais com alta precisão.
Essa descoberta é mais uma evidência do potencial da biodiversidade brasileira como fonte de soluções inovadoras para a saúde. Ainda em fase inicial, a pesquisa representa um passo importante na busca por tratamentos mais eficazes e menos agressivos contra o câncer de mama, doença que ainda figura entre as principais causas de morte entre mulheres no mundo.
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