Foto: Envato Elements
Por Joyce Canele
redacao@viva.com.brSão Paulo, 01/09/2025 - Um estudo liderado pelo neurocientista Andrea Serino, do Hospital Universitário de Lausanne, na Suíça, descobriu que o cérebro humano é capaz de antecipar riscos de infecção antes mesmo de ocorrer um contato físico com o agente causador da doença.
Essa resposta neural proativa parece preparar o sistema imunológico para agir rapidamente, oferecendo uma defesa extra contra ameaças invisíveis.
Publicado na revista Nature Neuroscience, o estudo revelou também que essa ativação precoce é acionada quando sinais visuais de doença, como tosse ou lesões na pele, surgem no campo de visão da pessoa e invadem o chamado 'espaço peripessoal' a área imediata ao redor do corpo que o cérebro monitora para proteger contra perigos.
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Para avaliar esse fenômeno sem riscos reais de contaminação, a equipe utilizou óculos de realidade virtual e criou avatares humanos com sintomas gripais simulados.
Esses personagens virtuais se aproximavam dos participantes, mas não chegavam a tocá-los. Em paralelo, outro grupo de voluntários recebeu apenas uma vacina contra a gripe, sem interação virtual.
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Durante a experiência, exames como eletroencefalograma (EEG), ressonância magnética funcional (fMRI) e análises sanguíneas mostraram que a aproximação dos avatares doentes ativou áreas cerebrais ligadas ao processamento multissensorial e à rede de saliência responsável por priorizar estímulos considerados importantes.
Essa reação enviou sinais ao hipotálamo (localizado no cerébro), disparando a ativação do eixo hipotálamo–hipófise–adrenal (HPA), mecanismo que regula hormônios relacionados ao estresse e à imunidade.
O resultado foi um aumento na frequência e na ativação das células linfoides inatas (ILCs), que atuam como primeira barreira de defesa contra infecções.
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Curiosamente, essa resposta imunológica só ocorreu diante de estímulos associados a doenças.
Avatares com expressões faciais de medo, mas sem sinais de infecção, não provocaram alterações semelhantes no cérebro ou no sistema imunológico.
Para os autores, esse mecanismo se encaixa no conceito de 'sistema imunológico comportamental', no qual sinais de perigo social ou físico despertam reações preventivas para evitar a exposição a patógenos, um comportamento observado com intensidade durante a pandemia de COVID-19.
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Os pesquisadores destacam que os achados reforçam a ideia de que o cérebro funciona como um 'detector antecipado de ameaças biológicas', agindo de forma comparável a um alarme de incêndio: é preferível disparar um alerta falso do que deixar passar um risco real.
No entanto, alertam que se trata de um estudo exploratório, limitado a um grupo de jovens adultos saudáveis e a uma única vacina contra a gripe (FluarixTetra 2018–2019).
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Ainda não está claro se imagens estáticas de pessoas doentes ou outros tipos de estímulo visual teriam o mesmo efeito observado no sistema imunológico com os avatares em movimento.
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