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Estudo aponta como a Meta lucra com publicidade de golpes financeiros

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Segundo levantamento do Projeto Brief, metade dos anúncios de 'empréstimo' tinha indícios de fraude, e um a cada 10 foram comprovados como golpe - Adobe Stock
Segundo levantamento do Projeto Brief, metade dos anúncios de 'empréstimo' tinha indícios de fraude, e um a cada 10 foram comprovados como golpe
Felipe Cavalheiro
Por Felipe Cavalheiro felipe.cavalheiro@viva.com.br

Publicado em 07/11/2025, às 16h42

São Paulo, 07/11/2025 - Uma pesquisa do Projeto Brief investigou anúncios patrocinados no Instagram e Facebook, plataformas da Big Tech americana Meta, que contivessem promessas de empréstimo ou saque de benefícios. Dos 16 mil anúncios buscados, 52% apresentava indícios de fraude e 9% eram golpes confirmados. 

A tática dos golpes em geral apresenta uma resposta rápida e sem burocracia. Usando imagens de Inteligência Artificial, além da logo de bancos reais para transmitir confiança, os criminosos aproveitam-se das vítimas com a maior necessidade e menor instrução, fazendo promessas de dinheiro fácil. 

Leia também: Golpe do falso advogado faz vítimas no Brasil: veja como se proteger

Além dos empréstimos, os golpistas também prometem auxílio nos beneficios. Uma prática comum é oferecer ajuda no saque do Bolsa Família, apresentando números de telefone falsos e formulários que roubam seus dados. Também na mira deles está o Benefício de Prestação Continuada (BPC), com promessas de assessoria jurídica, ou “reverter a decisão do INSS e recuperar valores atrasados”. 

Exemplo de golpe de empréstimo
Exemplo de golpe do Bolsa Família
Exemplo de golpe do BPC

Quais as responsabilidades da Meta?

A maior acusação do estudo está no ganho da Meta com os esquemas. Segundo relatório oficial da BigTech, 97,6% da receita da empresa veio de publicidade em 2024. O especialista em Direito Digital e Cibersegurança e sócio do Godke Advogados, Alexander Coelho, explica que a Meta ergue barreiras jurídicas, se aproveitando de uma leitura forçada do artigo 19 do Marco Civil da Internet (MCI).

No entanto, o MCI rege sobre liberdade de expressão, enquanto o lucro da Meta sobre estes transforma o problema em um modelo de negócios. O artigo 19 estabelece que a responsabilidade de provedores de conteúdo (como redes sociais) por conteúdo de terceiros só ocorre após ordem judicial para remoção, com algumas exceções

“Quando falamos de anúncios fraudulentos, a Meta tenta se abrigar em um discurso de neutralidade, mas essa tese tem limites jurídicos claros no Brasil. A empresa lucra diretamente com cada anúncio impulsionado, define regras de segmentação, aprova criativos e faz curadoria algorítmica. Quem exerce controle e obtém vantagem econômica não pode se comportar como mero espectador.", explica Coelho. 

Leia também: STF julga responsabilidade das redes sociais; entenda o marco civil da internet

Quanto às consequências jurídicas, o especialista afirma que, com base no Código de Defesa do Consumidor, a plataforma pode responder civilmente. Ele ainda acrescenta que, em muitos casos, um cidadão lesado por um golpe pode inclusive pedir indenização financeira à empresa. 

"A segurança do usuário não é um favor, ela parte do modelo de negócio das Big Techs. A partir do momento em que ela ganha dinheiro com isso, é dever dela manter essa segurança" 

Regulação brasileira e falta de transparência

Outra preocupação do estudo são as brechas legais abertas para a empresa. Coelho aponta que o Brasil ainda não tem um regime específico para publicidade digital de alto risco, como empréstimos, investimentos ou benefícios sociais. Isso abre espaço para que empresas como a Meta adotem políticas internas ineficientes. Mesmo lendo as diversas páginas de regras das plataformas, o funcionamento da derrubara, impulsionamento e distribuição de conteúdo ainda é obscuro. 

Leia também: STJ amplia responsabilidade dos bancos em golpes virtuais

No entanto, o advogado complementa que mesmo leis mais rígidas como o Digital Services Ac europeu são pouco efetivos. Sendo muito duras na teoria, muitas vezes os resultados dependem mais de uma aplicação correta das regras na prática. 

A responsabilidade da Meta não nasce de censura prévia, mas do dever de impedir que criminosos utilizem sua estrutura para causar dano. Isso já é exigido pela legislação atual, mesmo antes de qualquer nova regulação.”

Como se proteger

Por fim, a pesquisa traz algumas defesas que o usuário pode ter, que começam da identificação e vão até a denúncia do conteúdo. 

  1. Desconfie da urgência: uma prática comum da engenharia social é apelar ao senso de urgência da vítima. Todo anúncio que diga coisas como "última chance", ou "liberação imediata merece atenção.
  2. Investigue o perfil: após ler um anúncio, verifique o perfil. Empresas legítimas costumam ter os selos de verificação ao lado do nome, enquanto golpistas possuem poucos seguidores e postagens apelativas. Links que levam para outros sites, especialmente para conversas do WhatsApp, também são suspeitos. 
  3. Nunca compartilhe informações sensíveis: empresas sérias seguem a Lei Geral de Proteção de Dados, e raramente pedem dados pessoais antes de várias etapas de confirmação. Nunca compartilhe informações sem antes garantir a procedência da empresa. 
  4. Busque canais oficiais: nenhum programa social ou órgão público oferece benefícios por anúncios em redes sociais. Ao encontrar promessas de revisão ou resgate deles, busque informações em fontes oficiais, como o gov.br. 
  5. Pesquise antes de tudo: sempre confira as credenciais do anunciante.  Um advogado está prometendo assessoria jurídica? Para trabalhar ele precisa de um registro, que pode ser conferido no site da OAB. Uma empresa prometendo crédito? O Banco Central possui, em seu site, uma relação de todas as instituições com permissão para tal. 
  6. Denuncie: mesmo com a ineficiência da Meta ao lidar com denúncias, toda ajuda é válida. Ao identificar um golpe, use as opções que a plataforma oferece e informe conhecidos do perigo. 

Palavras-chave empréstimo golpe Meta

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