Trabalhabilidade: conheça o novo conceito sobre construção de carreira
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O conceito de trabalhabilidade pressupõe que o profissional faça o próprio trajeto, oferecendo habilidades e conhecimento baseado no aprendizado constante
Publicado em 10/11/2025, às 08h34 - Atualizado às 12h25
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São Paulo, 10/11/2025 - Depois de trabalhar por cerca de 35 anos em grandes corporações, Márcia Oblonczyk deixou a empresa em julho de 2024. Questões familiares e o fato de a empresa estar localizada em Curitiba, o que implicava em deslocamentos constantes de São Paulo para a capital paranaense, a levaram a tomar a decisão. Com 56 anos, casada e uma filha, no início deste ano ela procurou orientação para voltar ao mercado. Não foi em busca de um cargo em alguma organização, mas sim decidiu ‘vender’ sua experiência e conhecimentos.
Ela trocou a empregabilidade pela trabalhabilidade. A especialista em planejamento financeiro e estratégico ilustra o novo conceito, que põe ênfase nas habilidades e competências, bem como na autonomia que elas podem proporcionar.
É quando o profissional oferece seus conhecimentos e experiências, por meio de uma ou mais de suas aptidões, capazes de se ajustarem às carências de uma empresa. Autora do livro "Trabalhabilidade" e sócia e CDO da Talento Sênior, Cris Sabbag diz que esse modelo está mais presente hoje em razão de mudanças impulsionadas pelo desenvolvimento tecnológico, incluindo a adoção da IA, mudanças organizacionais e o envelhecimento da população.
Cris Sabbag é CDO da Talento Sênior e autora do livro 'Trabalhabilidade' - Foto: Divulgação / Talento Sênior
Segundo ela, o conceito de empregabilidade envelheceu também. As empresas já não dão mais conta desse pacto social, e o governo não consegue educar para as novas transformações, avalia.
O profissional precisa, então, divulgar sua autoridade naquilo que ele considera como seus pontos fortes. “É falar para o mercado que tem conhecimento, é pegar tudo o que sabe e reverter em valor para quem contrata e valor financeiro também para o contratado”, diz Sabbag.
Junto com isso, vem o desafio de se reinventar na maturidade.
“E se a empresa me olha e fala: ‘Só quem oxigena são os jovens’. Me vê como velho, o que faço? Me aposento agora com um salário mínimo e vou viver do quê? Então, esse conceito de empregabilidade não me cabe mais, porque ninguém me quer como empregado, mas eu preciso continuar a trabalhar.”
O especialista na construção de carreiras, mentor de carreiras globais e country manager da HireRight, Gustavo Sèngès concorda. “Cada vez mais os profissionais terão que construir suas próprias carreiras e depender menos de empregos formais”, afirma. Autor do livro "Global Workers - Escolha seu Melhor Futuro", ele diz que essa é uma tendência global.
Diante desse cenário, Sabbag fala em TaaS (talent as a service), ou “talento sob demanda”, e Sèngès, em “carreira portfólio". Por trás dessas expressões, está o conceito de contratação flexível de profissionais especializados conforme a necessidade. Segundo Sèngès, mesmo dentro do ambiente corporativo contam mais as experiências e habilidades do que o diploma - que também é importante, mas já não basta.
Márcia Oblonczyk decidiu buscar novas oportunidades de trabalho e não um emprego formal. Foto: Divulgação
A ideia, portanto, é destrinchar competências, experiências e conhecimentos que podem ficar ocultos sob o nome de um cargo para então agregar valor.
Para exemplificar o que isso significa, Sabbag usa o caso hipotético de um engenheiro civil. “O produto principal dele é construção pesada. Mas quais são os produtos satélites que ele pode vender? Se trabalhou muito tempo na construção pesada, pode ser um bom gerente de projeto, um mentor, um palestrante ou um professor”, diz.
No processo de preparação para se tornar uma profissional sob demanda, Oblonczyk também foi orientada a ter uma visão diferente de um empregado CLT. “Porque quando se fala em trabalhabilidade, está embutida a ideia de autonomia e contratações por meio de pessoa jurídica (PJ)."
É uma virada de chave. A PJ tem que identificar o seu produto, quem é o seu cliente e se preparar para atendê-lo. “Você não se vende por qualquer coisa. Seu produto, seu trabalho, tem valor”, frisa Sabbag. Nesse sentido, a orientação é saber como quantificar e valorizar sua prestação de serviço.
Diante desse quadro de mudanças nas configurações de relações de trabalho, Sèngès diz, no entanto, que o profissional mais qualificado possui mais poder de mudança e de tomar as rédeas da sua carreira. Mas a mão de obra menos especializada deve ser mais afetada por essas transformações, com a chegada da inteligência artificial e a volatilidade dos empregos.
Se uma empresa investe em propaganda, o talento sob demanda também precisa ter visibilidade no mercado. Nesse sentido, o LinkedIn desempenha um papel importante para divulgar expertise, fazer networking e até para prospectar clientes. Oblonczyk diz que já conseguiu um cliente, mas a prestação de serviço só deve ser iniciada em janeiro.
Ela considera que companhias de médio porte são o tipo de cliente que procura. E que o fato de ser profissional sob demanda também pode lhe permitir ter mais tempo para si ou até mesmo para ter mais de um cliente por vez.
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