Relatório revela aumento de violência contra mulher; saiba como denunciar
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Por Larissa Crippa
redacao@viva.com.brSão Paulo, 05/12/2025 - Nos últimos dias, casos mortais de violência contra a mulher na capital paulista e outras cidades vieram à tona. Em um deles, uma mulher de 31 anos teve as pernas mutiladas após ser atropelada por um ex-parceiro, enquanto em outro caso, a vítima foi morta com tiros em seu local de trabalho. A brutalidade, porém, não é exceção ou momentânea, mas sim sintoma de um sistema cada vez mais machista.
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De acordo com o relatório RASEAM de 2025 (Relatório Anual Socioeconômico da Mulher), divulgado pelo Observatório Brasil de Igualdade de Gênero, foram feitas 302.856 notificações de violência doméstica, sexual e outras violências contra mulheres em 2023, um salto em relação aos 216.024 registros de 2022.
O registro também aponta que as principais vítimas estão na faixa dos 20 aos 59 anos, sendo em sua maioria pardas (48%) e negras (12,3%), mostrando que mais de 60% das atingidas pertencem a esses grupos. Independentemente da cor, os casos de violência são amplos e variam entre agressões físicas, psicológicas e feminicídio.
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Vítimas mais afetadas
As mulheres em situação de vulnerabilidade social são as mais afetadas, segundo o documento, devido a fatores como codependência, insegurança alimentar e de moradia.
A situação, porém, ultrapassa as condições financeiras. Casos famosos, como a confissão do artista Dado Dolabella, mostram que qualquer mulher pode estar exposta a agressões.
Por que tanta violência contra mulheres?
Para especialistas da Organização Pan Americana de Saúde e da ONU Mulheres, a violência masculina contra a mulher está profundamente enraizada na desigualdade de gênero e no machismo estrutural, e não em qualquer traço de agressividade inata dos homens.
A principal causa apontada é a permanência de uma cultura que historicamente coloca as mulheres em posições de subordinação, legitimando relações de poder baseadas no controle e na coerção.
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Fatores individuais e sociais também desempenham papel relevante, como baixa escolaridade do agressor, histórico de violência na infância - seja como vítima, seja como testemunha - e o uso abusivo de álcool e drogas.
Pesquisas recentes destacam ainda que, diante de transformações nas relações de gênero e do avanço de modelos mais igualitários, alguns homens socializados em padrões tradicionais de masculinidade podem reagir com frustração, desamparo ou perda de status, o que, em certos casos, desencadeia comportamentos violentos como tentativa de reafirmar domínio. A isso, somam-se casos de descrédito e falta de respostas adequadas por parte do Estado.
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Como quebrar o ciclo
Ainda segundo a ONU Mulheres, quebrar o ciclo de violência exige tanto ações coletivas quanto iniciativas individuais de proteção e autonomia. Entre elas, cita a educação de meninos e meninas para relações igualitárias, incentivo ao respeito, à empatia e ao compartilhamento de responsabilidades, rompendo padrões de masculinidade que associam poder à violência.
Para mulheres que vivem ou suspeitam estar em uma relação abusiva, reconhecer os sinais, como controle excessivo, isolamento, humilhações, ciúme coercitivo, é um passo fundamental. Buscar rede de apoio, desde amigas, familiares e profissionais de saúde até orgãos como CRAS/CREAS, Defensoria e grupos de mulheres, ajuda a reduzir o isolamento que sustenta o ciclo.
Especialistas recomendam ainda documentar agressões, procurar atendimento médico, registrar boletim de ocorrência e acionar medidas protetivas sempre que possível. O fortalecimento da independência econômica, por meio de estudo, trabalho e acesso a políticas públicas, também é apontado como fator-chave para reduzir vulnerabilidades.
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Onde e como denunciar violência contra a mulher?
Para denunciar violência contra você ou outras mulheres, é possível acionar imediatamente o 180, que funciona 24 horas e orienta sobre direitos, indicando serviços de proteção e encaminhando denúncias para as autoridades competentes.
Em situações de risco iminente, o canal mais rápido é o 190, da Polícia Militar. As Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs) também oferecem registro de ocorrência, medidas protetivas e encaminhamentos para assistência jurídica, social e psicológica, todos direitos garantidos por lei.
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Se a vítima precisar sair de casa para preservar a própria vida, é possível buscar casas-abrigo e centros de acolhimento mantidos por prefeituras, governos estaduais e organizações parceiras, destinados a mulheres em situação de risco extremo, com garantia de sigilo.
As Defensorias Públicas também prestam apoio jurídico gratuito. Além disso, as unidades de saúde são obrigadas a notificar casos de violência e podem ativar a rede de proteção caso identifiquem a situação durante um atencimento.
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