Rafa Marques
São Paulo, 11/04/2025 - O dramaturgo Aguinaldo Silva e autor de novelas como Roque Santeiro, Tieta, Senhora do Destino, entre outras, esteve em São Paulo no início de abril para ver o ensaio aberto da peça “A Vida Começa aos 60”, escrita por ele, na década de 80.
Naquela época, ele já não se conformava como os 60+ enxergavam a vida. “É como se a vida tivesse passado. Você fez tudo direitinho, mas agora você fica aí no seu lugar e espera a morte. Isso me revolta muito. Até lá, as pessoas estão vivas, produzindo e fazendo o que quiserem”.
A peça conta a história de Lourdes, uma mulher de 60 anos, viúva, interpretada pela atriz Luiza Tomé, que encontra um novo amor e está disposta a se reinventar para viver esta nova fase da vida. Assim como na peça, Aguinaldo que está com 81 anos, diz que para se manter bem é preciso estar atuante, e ressalta que a vida é uma constante mutação.
E, por falar em estar na ativa, o autor já está escalado para escrever a próxima novela da Globo, “Três Graças”, que irá substituir “Vale Tudo”, e abordará gravidez na adolescência e maternidade solo.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista exclusiva para o Viva:
Já na época eu me preocupava com essa condição imposta às pessoas idosas, embora não fosse uma delas. Hoje, quando tenho 81 anos, vivo com a mesma intensidade dos tempos em que tinha 50 anos, e me preocupo ainda mais com o tema.
Os idosos dos anos 80 assumiam muito cedo a condição de "velhos". Envelhecer, no sentido de rejeitar a vida e esperar a morte, era considerado digno. Hoje, os velhos sabem que, na média, viverão mais tempo e tratam de se cuidar para aproveitar o quanto podem. Claro, não estou falando de todos e, sim, de uma minoria, que não para de crescer e que, em breve, será maioria (da população). Aquele que pensa sobre a vida que, na verdade, não tem prazo de validade: ela começa todo dia.
Além do preconceito dos muito jovens? O desafio de tentar, de todas as maneiras legais, adiar as doenças da velhice, que fatalmente virão. E, uma dessas maneiras é ser sempre atuante e produtivo.
Acho que ainda não... Mas precisa aprender com a maior urgência a fazer isso. No Brasil, felizmente, não temos esse tipo de atitude, mas na Europa, onde vivo (em Portugal), há uma tendência a se achar que envelhecer é "digno" e que, por isso, é preciso envelhecer o mais depressa possível. O problema, é que lá aos velhos só resta uma saída - os chamados "lares de idosos", onde as pessoas são internadas pelos parentes para morrer aos poucos. A capacidade do ser humano em amar não acaba. Qualquer pessoa, independente da idade que tenha, tem direito de se manifestar. Os dois personagens da peça têm direito de proclamar esse sentimento, de tornar público e de viver esse sentimento, independente da idade.
Acho que seria profundamente saudável...se tirássemos os excessos. Acho condenável o trabalho de certos médicos de algumas clínicas onde os velhos saem com a aparência de uma caricatura grotesca de um jovem.
Como escritor, eu tive três preocupações a vida inteira: não ofender, não discriminar e não ser preconceituoso. Acho que um criador tem obrigação de evitar esses três pecados... e ser sempre sincero.
Eu acho que é importante que cada pessoa se considere tão importante, que perceba que a vida não acaba até que a gente morre e que a vida sempre pode mudar. Cabe a cada um cumprir essa tarefa de mudar a própria vida quando não está satisfeito com a vida que leva. Eu vou fazer 82 anos em junho e estou começando a minha vida agora.
Cada vez que eu consigo um trabalho, e eu sempre consigo sempre, eu considero que aquele é o primeiro da minha vida. Eu tenho 18 anos e estou começando. Esse é o segredo. Você nunca deve achar que está velho. Porque você não está velho. Você é a mesma pessoa, só que agora com mais experiência. Isso é muito bom. Se a gente assume essa posição de que, eu sou quem eu sempre fui, só que sou mais sábio agora, a vida me deu sabedoria. A gente está mudando sempre, a gente não deixa de mudar nunca.
Um executivo que leu a sinopse me disse: "é Aguinaldo Silva na veia!" Eu sorri... Mas, na verdade, não sei o que significa isso.
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