Facebook Viva Youtube Viva Instagram Viva Linkedin Viva

Ícone da Bossa Nova, Claudette Soares faz 90 anos e comemora com novo álbum

Foto: Murilo Avesso

Com 80 anos de carreira, sim, Claudette Soares prepara novo disco de músicas inéditas - Foto: Murilo Avesso
Com 80 anos de carreira, sim, Claudette Soares prepara novo disco de músicas inéditas
Alessandra Taraborelli
Por Alessandra Taraborelli alessandra.taraborelli@viva.com.br

Publicado em 31/10/2025, às 08h14 - Atualizado às 08h15

São Paulo, 31/10/2025 - Ícone da Bossa Nova, Claudette Soares completa 90 anos hoje, mais ativa do que nunca e sem pressa de parar. Com 80 anos de carreira, sim, ela começou a cantar com 10 anos, viúva e sem filhos, a artista diz que a única família que tem é uma irmã de criação, a qual diz ser uma grande parceira.

Para comemorar a data, a cantora vai lançar, ainda sem data definida, um álbum de canções inéditas, escritas por velhos e novos artistas, como Marcos Vale, Arnaldo Antunes, Zé Renato, Guilherme Arantes, entre outros. O álbum reforça o compromisso de Claudette com a renovação constante de seu repertório, sem jamais perder a essência que a tornou uma referência de bom gosto e autenticidade.

Leia também: Alaíde Costa chega aos 90 anos despretensiosa e com agenda cheia

Completar 90 anos em plena atividade artística é uma dádiva. E poder fazer isso lançando novas músicas, com o mesmo entusiasmo de quando comecei, é minha forma de agradecer ao público por tanto carinho ao longo de todos esses anos”, declara.
Cantora Claudette Soares posando para foto
Claudette Soares afirma que não mudaria nada em sua carreira - Arquivo Público de São Paulo

A cantora se consagrou como uma das grandes intérpretes da música brasileira, com passagens decisivas pela bossa nova — onde ganhou o título de Dona da Bossa — e pela moderna canção popular urbana, sempre aliando sofisticação musical e lirismo.

Claudette mostra muito vigor e disposição para continuar nos palcos por mais alguns anos, diz que não tem preconceito de trabalhar com velhos ou jovens artistas: para ela, o que importa é fazer música boa. E, destaca que entre os novos artistas, gostaria de cantar com Jorge Vercillo.

Leia também: Após show intimista este ano, Luiz Caldas promete show de rock

“O álbum traz uma bossa atualizada, mas com o clima dos discos que gravei com o César Camargo Mariano e Antonio Adolfo, uma pegada bossa Jazz, diferente da Bossa Nova clássica. Marcus Preto – produtor -, sabiamente, quis trazer para o disco pessoas que nunca tinham feito bossa”, conta, acrescentando que tem verdadeira loucura por músicos. “Eles é que embelezam, fazem a roupagem do nosso trabalho."

A seguir, trechos da entrevista.

Viva: Você acha que a Bossa Nova morreu?

Claudette Soares: A Bossa Nova acabou no Brasil, é uma vergonha. Com todo respeito, a Bossa Nova morreu não para o público, mas para o sistema. É que o sistema não te dá essa abertura, entende? O pessoal não investe na Bossa Nova. Você vê alguém na televisão cantar uma Bossa Nova? Não, claro que não. Ninguém grava mais coisas bonitas, e nós temos grandes cantores.

Seu novo disco vai ser um 'déjà vu", um renascimento da Bossa Nova?

Renascimento pode ser até pretensioso. Porque tem gente como o Roberto Menescal e o próprio Jorge Vercillo que continuam fazendo Bossa Nova. Quero dizer que deu uma parada muito longa. Morrer…a Bossa Nova nunca vai morrer. Porque hoje o grande problema é o seguinte, quando um gênero está fazendo sucesso, é só aquele. Não existe essa democracia, de todo mundo ter um pouco do seu lugar.

Você prefere se apresentar em programas de televisão ou no palco?

Eu vou dizer uma coisa, do fundo do meu coração. Eu cheguei a São Paulo, tinha 24 anos e já trabalhava no Rio de Janeiro, fui contratada pela Record para fazer o Fino da Bossa e fiz todos os programas muito bem. Naquela época, eu já detestava cantar em televisão, imagina hoje. Eu nunca gostei de cantar em televisão, eu gosto do palco. Vou confessar, eu sou uma atriz frustrada, eu gosto de palco.

Você mudaria alguma coisa em sua carreira?

Não, não....na época eu até pensava que poderia estar errado, mas não mudaria nada.

Que dica daria para quem está começando?

Seja você mesma, tenha uma personalidade vocal. Não queira parecer com ninguém. É terrível alguém se lembrar de você porque canta igual a outra pessoa.

Sente falta de algo que tinha na sua geração e hoje não se vê mais?

Sinto falta das casas noturnas, que eram uma grande escola. Lá você podia ver grandes artistas, dar uma “canja” cantando com diversos tipos de músicos. Isso nos dava segurança.

O que você faz para cuidar da sua voz? Percebeu alguma diferença no timbre da em razão da idade?

Apesar de desejar ter uma voz rouca, como Cássia Eller, e a soprano Maria Callas, eu nunca fiz aula de canto ou preparação vocal. O segredo é ter cuidado com a voz no dia a dia, não gritar, não rir alto e, principalmente, jamais ultrapassar o limite de tonalidade na hora de cantar, para preservar as cordas vocais. Nunca como ou bebo gelado para cuidar da garganta. Segundo minha médica, aos 60 anos eu me tornei contralto (voz feminina mais grave, caracterizada por um timbre encorpado e pesado) e isso é uma garantia de que não irei perder a voz, vou continuar cantando. 

E com a saúde, a senhora tem algum cuidado especial?

Eu nunca fumei e bebo álcool com moderação, gosto de vinho e uísque. Faço atividade física na medida do possível, usando uma bicicleta ergométrica que tenho em casa. Tenho uma genética boa, faço check-ups anuais com resultados de sangue perfeitos e não tenho histórico familiar de diabetes. Eu como de tudo, adoro filé mignon, chocolate e encho o café de açúcar. Só não como o que não gosto, tipo gordura. As pessoas acham muito engraçado e não acreditam que eu tenho 90 anos.

A sua altura, 1,50 metro, foi ou é um problema?

Eu nunca gostei de ser baixinha, eu fui vítima de bullying, me chamavam de nanica. Mas minha altura não me impediu de me relacionar com homens altos e também aprendi a brincar com minhas limitações no palco, usando o humor como um mecanismo de defesa.

Eu também sempre usei salto. Aliás, eu digo que nasci de salto alto, mas isso me causou problemas no joelho.

Tem algum cantor que gostaria de fazer parcerira?

Eu gosto muito do estilo do Jorge Vercillo, gostaria de fazer parceria com ele.

Qual o maior benefício de ter 90 anos?

Eu aprendi a dizer não. Foi um pouco tarde, com quase 60 anos, após uma situação, a minha psiquiatra me disse que eu precisa aprender a dizer não e isso é libertador. É difícil, mas aprendi a dizer de um jeito suave: "Bem, isso eu não quero não". No início da carreira eu precisava “abaixar a cabeça” e aceitar tudo, mas agora, com 90 anos, eu posso exercer meu direito de escolha.

Comentários

Política de comentários

Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.

Gostou? Compartilhe

Últimas Notícias