Envato, por Aurora Angeles
São Paulo, 09/09/2025 - Na visão de 77% dos brasileiros atualmente somos um País muito desigual. Essa é a conclusão de pesquisa 'Percepções sobre as desigualdades no Brasil' realizada pelo Observatório Fundação Itaú, com apoio técnico da Plano CDE e Datafolha, divulgada nesta manhã, em São Paulo.
Somente 2% dos entrevistados avaliam que não há desigualdade no País. Entre os que consideram o país desigual, essa percepção é maior entre as mulheres, chegando a 82%. Entre as pessoas na faixa de 45 a 59 anos a desigualdade é confirmada por 81%. Entre os acima de 60 anos, esse índice fica em 80%.
No recorte por escolaridade, 79% dos entrevistados com ensino fundamental incompleto ou completo têm uma percepção maior de que há muita desigualdade no Brasil.
Leia também: Brasil avança no ranking global de desenvolvimento humano da ONU
Outros 76% concordaram que a impunidade diante da corrupção contribui para a manutenção das desigualdades.
Entre as razões mais espontaneamente mencionadas como causas dessas desigualdades 24% mencionaram a ausência de políticas públicas e 18% questões relacionadas à má gestão pública, seguida por corrupção, com 12%.
Somente 10% das pessoas mencionaram como causa da desigualdade a falta de emprego/desvalorização de mão de obra e 9%, a discriminação (racismo, preconceito).
Outros 9% citaram aspectos sociais, como desunião, desonestidade ou falta de respeito. E 7% enxergam a má distribuição de renda como fonte de desigualdade.
Entre outras causas para a manutenção desse quadro, 47% citaram questões históricas, como o racismo e sua relação com o passado brasileiro e 44% destacaram o impacto da escravidão nas oportunidades para pessoas negras.
A partir dos resultados do estudo os pesquisadores buscam compreender como os brasileiros enxergam esses problemas e quais soluções consideram possíveis. A ideia, segundo os organizadores do levantamento, é contribuir para o desenvolvimento de políticas e ações voltadas à redução dessas desigualdades estruturais.
As questões culturais são as mais citadas no levantamento. Além da impunidade diante da corrupção, 75% acreditam que o "jeitinho brasileiro" e a corrupção trazem vantagens a quem já é privilegiado.
Entre as questões estruturais, 70% dos entrevistados concordam que as leis e o funcionamento da economia no País beneficiam os mais ricos, favorecendo poucos e prejudicando muitos. Para 64% a falta de oportunidades de trabalho formal e bem remunerado também é vista como um problema para o aumento das desigualdades. E 76% entre os respondentes da classe D/E e com ensino fundamental incompleto tem a percepção de que as leis beneficiam os mais ricos.
Leia também: Lula: "Uma nação que tem pouca gente com muito dinheiro é uma nação pobre"
Os motivos atribuídos espontaneamente para a causa das desigualdades no Brasil variam conforme a classe social. Enquanto a “ausência de políticas públicas” é apontada como causa por 28% dos indivíduos da classe A, por 30% da B e 27% da C, na classe D/E o índice é de apenas 15%.
A percepção também muda de acordo com o nível de escolaridade dos entrevistados. Entre os indivíduos com nível superior, 35% apontam a falta de políticas públicas como causa da desigualdade. Já os entrevistados com apenas o ensino fundamental incompleto, o índice é de 16%.
Investir na educação pública é apontado por 79% dos entrevistados como um dos caminhos essenciais para redução das diferenças de renda no país. Essa percepção também é alta, mas um pouco menor, entre os mais jovens (74%) e pessoas de classe D/E (72%).
Para 59% dos ouvidos pelo Observatório, a ausência de investimentos em educação contribui para a manutenção do ciclo de pobreza atravessar gerações. Essa percepção é um pouco menor entre pessoas de 18 a 24 anos (54%) e na classe D/E (57%), mas também relevante.
A metodologia do estudo envolveu duas etapas, a qualitativa e a quantitativa. A etapa qualitativa foi realizada entre agosto e setembro de 2024, em cinco capitais, uma de cada região do país, com 150 pessoas, distribuídas em 50 tríades, combinando diferentes classes, gêneros, raças, idades e localidades.
Na etapa quantitativa, realizada em junho de 2025, foi reunida uma amostra nacional de 2.787 entrevistados, representativa da população brasileira com 18 anos ou mais, de todas as regiões, classes sociais, gêneros, raças e escolaridades. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%.
Política de comentários
Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.