São Paulo, 01/08/2025 - Em nota, a Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (
Abics) declarou ter 'grande preocupação' sobre o impacto da tarifa de 50% imposta pelos EUA nas importações dos cafés solúveis do Brasil para o país.
O setor acompanha com atenção o processo, após a assinatura de uma ordem executiva pelo governo norte-americano que prevê sobretaxa adicional de
40% a produtos brasileiros, além dos 10% aplicados em abril,
somando 50%.
Segundo a entidade, em 2024 os norte-americanos responderam por aproximadamente 20% do total das exportações brasileiras do segmento e se posicionaram como o principal parceiro comercial do café solúvel brasileiro.
O Brasil responde por mais de 25% do volume importado pelos EUA, sendo o segundo maior fornecedor a esse mercado. "Diante da ordem assinada pelo presidente Trump, o Brasil, entre os principais fornecedores do produto aos Estados Unidos, é o País que sofrerá a maior tarifa, o que deverá prejudicar sobremaneira a nossa competitividade", afirma a entidade.
Ressaltando a eventual
perda de mercado para concorrentes com tarifas menores, como o México, a Abics afirma seguir, em conjunto com associações e entidades ligadas ao agronegócio café, em contato com a Associação Nacional do Café dos EUA (NCA, na sigla em inglês), e as
autoridades brasileiras. Com a confiança de que o "bom senso impere", a entidade diz esperar que o diálogo e as negociações resultem na isenção de tarifas para todos os cafés do Brasil, em suas formas in natura e industrializados.
Abic vê espaço para negociações
Na visão da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) ainda há espaço para negociação antes da entrada em vigor das novas tarifas impostas pelos EUA, cuja aplicação entrará em vigor em 6 de agosto.
"Havia uma previsibilidade de o tarifaço ser iniciado na próxima sexta, dia 1 º de agosto. Com a ordem executiva assinada hoje, o prazo, para entrada em vigor das tarifas, é colocado para 6 de agosto. Em uma mesa de negociação, todo tempo ganho é válido."
Apesar de o café ainda não figurar entre os produtos isentos da medida, a Abic avalia que "as negociações
estão longe de serem finalizadas, ao contrário, seguem em curso". A entidade ressalta a importância do mercado norte-americano para os produtores brasileiros, mas também lembra o peso do café brasileiro na economia dos Estados Unidos.
"O café ainda não está na lista de exceções", diz a nota, acrescentando que os cafés do Brasil representam cerca de 34% do mercado de café dos EUA, país em que 76% da população consome a bebida regularmente.
A Abic acredita que há precedente para reversões tarifárias e que a existência de uma lista de exceções demonstra espaço para avanço nas tratativas. "Temos na história recente das relações comerciais casos de outros países com reversões de escalada de tarifas", afirmou.
A entidade também reforçou que está em articulação constante com autoridades brasileiras, como ministros, senadores e o Itamaraty, além de manter contato com representantes norte-americanos.
"Seguiremos colaborando com as autoridades, confiando na diplomacia brasileira, tomando as medidas possíveis juntos aos atores envolvidos e apostando na força econômica e social do café para os EUA", conclui o comunicado.
Tratativas continuam
Em nota, o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) disse em nota que "seguirá em tratativas" com seus pares nos EUA para que o produto integre a
lista de exceções elaborada pelo governo norte-americano. Entre os parceiros, o Cecafé cita a NCA, dos EUA.
"Não obstante a sua conhecida importância para o Brasil, o café também é de suma relevância aos Estados Unidos, haja vista que 76% do povo norte-americano consome a bebida", continua. "A população gasta cerca de US$ 110 bilhões em café e itens relacionados (US$ 301 milhões por dia) ao ano."
O Cecafé comenta também que o produto é responsável por mais de 8% do valor de toda a indústria de serviços alimentícios, conforme estudo sobre o impacto econômico do café nos EUA, conduzido pela Technomic, em 2022, a pedido da NCA.
Além disso, a indústria cafeeira norte-americana sustenta mais de 2,2 milhões de empregos no país, gerando mais de US$ 101 bilhões em salários, "o que beneficia todos os Estados e comunidades locais", prossegue a Cecafé. "A cada US$ 1 que os EUA importam de café são injetados outros US$ 43 na economia americana, fazendo com que o setor movimente US$ 343 bilhões ao ano, montante que representa 1,2% do PIB dos Estados Unidos."
Para o Cecafé, "diante da relevância do café aos consumidores e à economia norte-americana", se faz necessária a revisão da decisão de taxar os cafés do Brasil - "ato que implicará elevação desmedida de preços e inflação, uma vez que esses tributos serão repassados à população americana no ato da compra".
A entidade informa ainda que seguirá trabalhando junto aos parceiros nos Estados Unidos, de maneira que consiga "lograr êxito no sentido de, ao menos, o café ser incluído entre os produtos que fiquem isentos da tributação adicional de 40%".