Samyra Galvão / Gabinete Nelsinho Trad
Por Aline Bronzati, da Broadcast
redacao@viva.com.brWashington, 29/07/2025 - Os senadores brasileiros que estão em Washington, nos Estados Unidos, para tratar da taxação de 50% ao Brasil vão se reunir com parlamentares americanos hoje. Os encontros serão fechados à imprensa e devem ocorrer no Capitólio, mas os detalhes das agendas não foram revelados em meio à preocupação com o boicote por parte do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
O filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teceu críticas à comitiva do Senado e disse que atuaria para atrapalhar a interlocução dos senadores brasileiros na capital americana. "Eu trabalho para que eles não encontrem diálogo", afirmou ele, ontem, em entrevista ao 'SBT News'.
Em resposta às críticas de Eduardo Bolsonaro, o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, o senador Nelsinho Trad (PSD-MS), disse que o objetivo da missão não é "bater boca", mas "azeitar" a relação do Brasil com os EUA "que esfriou".
"A gente não vai entrar batendo boca com ninguém. Até porque isso não agrega nada. E nós lutamos aqui contra qualquer fato que esteja envolvido nessa questão. Nós estamos buscando uma pacificação, um azeitamento da relação que esfriou", afirmou o líder da missão dos senadores a Washington, em conversa com jornalistas.
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Os senadores não devem se encontrar com funcionários do governo do presidente dos EUA, Donald Trump, durante a missão, que acaba amanhã, dia 30. O Senado gastou quase R$ 500 mil para bancar as passagens e diárias de oito senadores nos EUA, conforme mostrou o Estadão.
De acordo com Trad, o objetivo da missão não é negociar as tarifas. "O intuito principal é distensionar essa relação entre o Brasil e os EUA com a nossa contraparte parlamentar. A partir do momento em que a gente conquistar isso, a missão já vai ter o seu primeiro ponto no sentido de proporcionar ambiente e caminho para que quem tem a prerrogativa de negociar que não somos nós e sim o governo federal possa sim fazê-lo", disse.
O chanceler Mauro Vieira está em Nova York, onde cumpriu agendas na Organização das Nações Unidas (ONU) ontem, dia 28, e poderá ir a Washington nos próximos dias caso seja recebido por um interlocutor do presidente Trump. Uma opção seria o secretário de Estado, Marco Rubio, que ocupa cargo equivalente ao de ministro das Relações Exteriores
Outro caminho seria uma ligação entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o republicano. O senador Carlos Viana (Podemos-MG) afirmou que foi solicitado à Câmara de Comércio dos Estados Unidos que intermedeie uma conversa entre os dois. Segundo ele, o líder do governo no Senado, o senador Jaques Wagner (PT-BA), que integra a missão a Washington, sinalizou que o Brasil está disposto a conversar.
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Ontem, no primeiro dia das conversas em Washington, os senadores brasileiros se reuniram com representantes da iniciativa privada americana de empresas como as petroleiras Exxon Mobil e Shell USA, IBM, Johnson & Johnson, Cargill e Caterpillar, e especialistas políticos.
Uma ideia que surgiu desses debates foi o envio de um novo manifesto à Casa Branca solicitando a postergação da cobrança da tarifa de 50% ao Brasil. Essa carta seria enviada em nome da Câmara de Comércio dos EUA antes de sexta-feira, dia 1º, quando os produtos brasileiros começarão a ser taxados em 50% ao entrarem em território americano.
Participaram das conversas ainda o ex-advogado-geral do Escritório de Representação de Comércio dos EUA (USTR, na sigla em inglês) no primeiro governo Trump, Stephen Vaughn e o ex-diretor do Departamento de Comércio, Ryan Majerus. Segundo Vaughn, o Executivo norte-americano pode, mesmo após eventual derrota judicial, reinstaurar tarifas por meio de diversas outras ferramentas legais já disponíveis.
Dentre os presentes, estiveram ainda nomes como o do diretor-executivo para as Américas da Eurasia Group, Christopher Garman, e o presidente da Ipsos Public Affairs, Clifford Young. Já do lado brasileiro, participaram o diretor-executivo do Brasil no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Paulo Correa, e o ex-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo.
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