Publicado em 13/10/2025, às 15h07 - Atualizado às 16h00
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Florianópolis, 13/10/2025 - O acidente vascular cerebral (AVC) é atualmente a principal causa de morte no Brasil e já registrou mais de 200 mil mortes entre 2024 e setembro deste ano, segundo dados do Ministério da Saúde. Para além desses, cerca de 300 mil pessoas anualmente sobrevivem a um AVC e são colocadas diante de um grande desafio: sequelas duradouras que podem afetar a vida social, emocional e econômica.
Parte desses problemas poderia ser minimizada caso houvesse atendimento adequado nas primeiras horas após o aparecimento dos sintomas, explica a médica neurologista Simone Amorim, da Clínica Vita.
"A janela de ação ideal para atender um caso de AVC é de 4 horas e meia. Se a pessoa não recebe atendimento nesse tempo, poderá morrer mais rápido ou ter sequelas irreversíveis".
Ela foi uma das palestrantes do XV Congresso Brasileiro de AVC, que ocorreu de 9 a 11 de outubro, em Florianópolis (SC).
Simone Amorim, médica neurologista da Clínica Vita, alerta que é preciso agir em até 4,5 horas em caso de AVC - Foto: Divulgação/Ipsen
Dentre as sequelas mais comuns, estão sobrevida reduzida em média 5 anos e meio, perda ou redução de força de um lado do corpo, espasticidade, dificuldade de fala e de cognição, com alteração de memória, dentre outras.
A agilidade em conter essas sequelas também esbarra na falta de locais especializados para o tratamento, destaca a presidente da Sociedade Brasileira de AVC, Maramelia Miranda.
Em outras palavras, o acesso a uma linha de cuidado adequada para AVC depende de onde você está, do horário em que a situação acontece e de qual serviço de saúde vai usar.
Miranda explica que, embora a atual política de atenção ao AVC do governo federal represente um avanço no atendimento aos casos, o País registra grandes vazios, com locais onde o tratamento não chega. "A linha de cuidado do AVC deveria começar na comunicação com o serviço de emergência e terminar no pós-tratamento, mas hoje ela é fragmentada".
Maramelia Miranda, presidente da Sociedade Brasileira de AVC, cobra linha de cuidado completa - Divulgação/Ipsen
"Hoje, se você está em São Paulo e vai ao SUS durante a madrugada, por exemplo, não terá acesso a procedimentos como uma trombectomia, que pode prevenir danos cerebrais", diz a médica. O exemplo, segundo ela, se repete em outras grandes capiais do País, como no Rio de Janeiro, Ceará, Paraná, para citar alguns.
"É inacreditável que o problema de saúde que mais mata no País não tenha uma linha de cuidado completa com acesso 24 horas em todos os Estados."
Reabilitação pós-AVC é pouco acessível
Conseguir se reabilitar após sobreviver a um AVC é outro desafio. De acordo com o médico fisiatra Celso Vilella, especialista no tema, o ideal é que a reabilitação comece em até três meses após a alta hospitalar.
"O paciente deveria sair do hospital com a reabilitação agendada. Mas o que acontece na realidade é que ele é encaminhado para vários médicos diferentes, que vão pedir novos exames e só depois liberar o início de atendimento".
Com isso, perde-se tempo, prolongando as sequelas. No caso da espasticidade, a situação é especialmente grave, já que a condição acomete mais da metade dos pacientes e causa rigidez muscular, contração involuntária e dificuldades para movimentar braços e pernas. "Quanto mais tempo a pessoa ficar sem receber a reabilitação adequada, mais grave é a espasticidade, a ponto de se tornar irreversível", explica Vilella.
Tempo é crucial para evitar sequelas, diz Celso Vilella, médico fisiatra e especialista em espasticidade - Divulgação/Ipsen
Em 45% dos casos de AVC, a espasticidade acontece em até três meses, mas em cerca de 35% dos casos ela pode aparecer mais tarde, em até 12 meses. Nesses casos tardios, a gravidade da condição é maior, podendo ser mais deformante. "Por isso o acompanhamento após o AVC é de longo prazo", destaca.
Na prática, porém, o médico diz que não é incomum encontrar pessoas que iniciam a reabilitação meses ou até anos depois, muitas vezes pela morosidade dos sistemas de saúde público e privado em agilizar o acesso.
"Quanto mais rápido a pessoa iniciar a reabilitação após o AVC, mais chances terá de reinserção na sociedade e no mercado de trabalho."
Segundo cálculos da Associação Brasil AVC (ABAVC), o custo médio do acidente vascular cerebral por pessoa chega a R$ 134 mil, incluindo custos diretos do tratamento e indiretos, causados pela perda de produtividade ao longo da vida. Desse total, a instituição destaca que cerca de 70% do custo indireto recai sobre o paciente, sua família e sua comunidade.
*A repórter viajou ao XV Congresso Brasileiro de AVC a convite da Ipsen.
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