São Paulo, 14/09/2025 - A lipoproteína de baixa densidade (LDL), conhecida como "
colesterol ruim", é uma das principais vilãs quando o assunto é saúde, especialmente após os 50 anos de idade. Este mês, por exemplo, um
novo estudo apontou esse tipo de colesterol como um
principais fatores de risco evitáveis que levam a demência em pessoas acima dessa faixa etária no Brasil.
Dados anteriores da Sociedade Brasileira de Cardiologia já apontavam que pessoas com colesterol total acima de 240 mg/dL têm quatro vezes mais chances de desenvolver doenças coronariana, tornando-se um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares e
Acidente Vascular Cerebral (AVC).
O problema é que nem sempre o colesterol elevado apresenta sintomas visíveis, explica o cardiologista Marcelo Bergamo, do departamento de cardiologia no Hospital Santa Bárbara, em Santa Bárbara d’Oeste, no interior de São Paulo.
"É como um ladrão silencioso que rouba a saúde do coração aos poucos. Muitos pacientes só descobrem o problema quando já sofreram um evento cardiovascular grave. A prevenção e o diagnóstico precoce são fundamentais para salvar vidas."
Bergamo diz que o risco cardiovascular aumenta ainda mais em fumantes, pessoas com obesidade, portadores de
diabetes mellitus, hipertensão arterial e sedentarismo. "A boa notícia é que o colesterol alto é totalmente controlável. Com mudanças simples no dia a dia e acompanhamento médico adequado, é possível reduzir significativamente os riscos cardiovasculares e ter uma vida longa e saudável", enfatiza.
Como controlar os níveis de colesterol LDL
Entre os cuidados fundamentais estão a realização de exames regulares para verificar o
colesterol pelo menos uma vez ao ano, manutenção de uma alimentação equilibrada priorizando frutas, verduras, peixes e grãos integrais, evitando gorduras saturadas e trans, prática de
atividade física com mínimo de 150 minutos de exercícios por semana e controle do peso mantendo o IMC dentro da faixa ideal.
Apesar desse cuidados serem indicados a todas as pessoas para prevenir a alta do colesterol, o endocrinologista do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE) Evandro Portes diz que o risco potencial da doença é avaliado de forma individualizada. "Além dos exames laboratoriais como níveis dos lipídeos circulantes, função renal, tireoidiana e hepática, levamos em consideração fatores como idade, tabagismo, obesidade, presença de outras doenças, e, principalmente, antecedentes de infarto ou AVC em parentes próximos", explica.
Nesse sentido, ele diz que as metas de controle do colesterol LDL variam conforme o perfil de risco de cada paciente, que em alguns casos podem ter a indicação de manter o nível abaixo de 30 mg/dL. Já pessoas sem doenças crônicas, com estilo de vida saudável e sem histórico familiar de doença cardiovascular, os níveis devem ficar no máximo em até 130 mg/dL.
Quando necessário, Portes diz que é indicado o uso de medicação específica, como as estatinas, amplamente utilizadas na prática médica, ou de novas medicações já disponíveis, que reduzem de maneira mais intensa os níveis de LDL. A interrupção do tabagismo também é essencial, além da diminuição do consumo de álcool.
"Quanto maior o risco de o paciente desenvolver doenças cardiovasculares nos próximos dez anos, mais rigoroso deve ser o controle dos níveis de colesterol."
Menopausa também pode impactar níveis de colesterol ruim
A
menopausa marca uma transição profunda na vida da mulher e não apenas no aspecto reprodutivo. Estudo publicado em junho deste ano na revista científica
Endocrine Reviews aponta que o fígado é um dos órgãos mais afetados pela queda do estrogênio nessa fase da vida. O impacto pode evoluir para quadros graves, como fibrose hepática, cirrose e até necessidade de transplante de fígado.
Além disso, o estudo aponta que, com a queda hormonal, há aumento da gordura abdominal, elevação do colesterol ruim, resistência à insulina e inflamação crônica. Esses fatores, juntos, tornam o fígado da mulher mais vulnerável a desenvolver esteatose hepática (gordura no fígado) e suas formas mais graves, como a fibrose.
“Durante a fase fértil, o estrogênio principalmente o estradiol atua como um verdadeiro escudo para o fígado, controlando o metabolismo da gordura, reduzindo inflamações e mantendo o equilíbrio das funções hepáticas”, explica Patrícia Almeida, hepatologista pela Sociedade Brasileira de Hepatologia e doutora pela Universidade de São Paulo (USP). “Esse equilíbrio, porém, começa a ruir até sete anos antes da última menstruação, durante a perimenopausa.”
Ela diz ainda que prevalência da doença hepática associada à disfunção metabólica (antigamente chamada de esteatose hepática não alcoólica) sobe de forma expressiva após os 50 anos e hoje já é a principal causa de transplante de fígado em mulheres nos Estados Unidos, por exemplo.
“A menopausa é um divisor de águas metabólico. E, nesse cenário, o fígado paga um preço altíssimo se nada for feito. Por isso, é fundamental que médicos e pacientes estejam atentos à chamada ‘janela de oportunidade’: os anos que antecedem e seguem a menopausa são estratégicos para mudar esse destino”, alerta.