Publicado em 07/10/2025, às 12h34 - Atualizado às 14h55
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São Paulo, 07/10/2025 - Uma mudança no protocolo de diagnóstico da pressão alta vem causando dúvidas. Em setembro, a Sociedade Brasileira e Cardiologia (SBC) atualizou as diretrizes de hipertensão arterial do Brasil, adequando o documento de referência a parâmetros internacionais. A mudança levou muita gente a se perguntar: será que minha pressão está normal?
Segundo a nova "regra", uma pressão arterial que fica entre 120 a 139 mmHg de sistólica e 80 a 89 mmHg de diastólica (o famoso "12 por 8" a "13 por 8") agora é vista como indício de atenção e deve ser tratada como pré-hipertensão.
Já diagnóstico de hipertensão permanece o mesmo de sempre: acima de 14 por 9 indica pressão alta. Mas, na prática, não basta simplesmente colocar as pessoas dentro dessas métricas: a avaliação varia de caso a caso.
E para saber se a pessoa está em condição de pressão normal ou alterada, é preciso consultar um médico, alerta o cardiologista Ivanhoé Stuart, do Hospital Regional Rota dos Bandeirantes, unidade do Sistema Único de Saúde gerida pelo Instituto de Responsabilidade Social Sírio-Libanês.
"É bom que a pessoa tenha consciência da importância de se cuidar e observar a pressão arterial, mas a diretriz é endereçada primariamente para o profissional e precisa ser traduzida, interpretada e contextualizada pelo médico".
Em pessoas idosas, a avaliação clínica difere da tradicional, por exemplo. Nesses casos, a SBC orienta uma abordagem individualizada e ampla, com consultas mais longas que permitam considerar a complexidade das múltiplas condições associadas, a lentidão física e cognitiva do paciente, além da presença de familiares e cuidadores, com os quais deverá discutir as terapêuticas propostas.
Já no caso de idosos muito frágeis existe a necessidade de consultas adicionais, devido à exaustão do paciente. Em resumo, explica Stuart, a análise da pressão arterial em pessoas idosas deve ser individualizada, especialmente se envolver múltiplas doenças, condições neurodegenerativas e polifarmácia - situação em que a pessoa toma cinco ou mais medicamentos diferentes.
Como prevenir e tratar a hipertensão
Os especialistas explicam que o controle adequado da hipertensão exige mudanças de estilo de vida e uso de medidas não medicamentosas, como hidratação adequada, controle no consumo de sal, prática de atividades física, evitar álcool e não fumar. Isso vale para todas as idades, tanto para pessoas que já foram diagnosticadas com a doença como para aquelas que agora se enquadram em uma situação de pré-hipertensão.
"O recado importante é que remédio sozinho não basta. A hipertensão é uma doença crônica, que depende de mudança no comportamento e no estilo de vida."
O cardiologista Ivanhoé Stuart destaca a necessidade de atividade física para controle da hipertensão - Divulgação
Nesse cuidado, um dos focos é manter o peso adequado e equilibrar os níveis de sódio e potássio. Por isso, o médico recomenda a chamadadieta DASH, que tem o poder de reduzir a hipertensão. Ela consiste na ingestão de frutas, verduras, laticínios desnatados, carnes magras e oleaginosas. Mas restringe o consumo de cloreto de sódio, açúcar e doces, carnes mais gordurosas, refrigerantes, álcool e alimentos ultraprocessados.
No caso do exercício físico, o indicado são 150 minutos de atividade aeróbica regular distribuídas ao longo da semama e musculação ao menos duas vezes por semana. "Frequência vence intensidade. É melhor fazer atividades moderadas com constância do que atividades muito intensas e esporádicas, que deixam a pessoa mais sujeita a lesões", defende o médico.
Além desses direcionamentos, a SBC também indica que os idosos evitem refeições muito pesadas, com grande consumo de carboidratos e de álcool. Também não devem realizar exercícios após as refeições, reservando a atividade para outro horário do dia. Em alguns casos, será necessário também uma mudança na elevação da cabeceira da cama e uso de meias elásticas, mas apenas em situações específicas indicadas pelo médico.
Como monitorar a pressão arterial em casa
Medir a pressão arterial em casa é importante, porém, a interpretação dos dados deve ser orientada por um médico. Para quem vai começar uma investigação de hipertensão, por exemplo, Stuart pede para medir duas vezes ao dia, durante cinco a sete dias seguidos, anotando tudo em um caderno. Os resultados devem ser apresentados ao profissional de saúde na consulta de retorno.
Eu indico medir pela manhã, logo quando a pessoa acorda, depois que esvaziou a bexiga e antes de se alimentar. E à noite, antes de deitar. Esses apanhado de informação é rico para a gente entender os escapes da pressão."
Em pessoas que já têm hipertensão, a mensuração também é constante, e o alvo deverá ser de, no máximo, 13 por 8. "Mas essa regra não é escrita em pedra, a gente precisa individualizar. Uma pessoa com alta fragilidade não pode ter essa meta, por exemplo".
Os medicamentos para hipertensão são um caso à parte. Eles são sim indicados, mas apenas com controle e acompanhamento constante do médico. Caso contrário, pode haver a chamada "inércia terapêutica", que acontece quando a pessoa usa um remédio ou um esquema terapêutico inadequado e demora para reavaliar a situação. "Essa é a combinação para a pressão que nunca está controlada", esclarece Stuart, e acrescenta:
"Se a pressão está boa, significa que o tratamento está funcionando e não que a doença desapareceu. Então, parar o remédio por conta própria ou mudar a medicação por conta própria vai oferecer o risco de efeito rebote, piorando o quadro."
O cardiologista completa dizendo que todas essas medidas são para evitar procedimentos mais graves, como uma cirurgia cardíaca. "Tem gente que acha que apenas uma cirurgia vai resolver, mas o grande impacto na vida não vai ser colocar um stent, vai ser parar de fumar, controlar a hipertensão, a diabetes. Esse trabalho de formiguinha tem muito mais impacto em proporcionar anos de vida com qualidade do que um procedimento cirúrgico, que por mais impactante que seja, sozinho não traz resultado".
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