Mau hálito em pessoas idosas: dentista explica as quatro principais causas
Envato
Por Bianca Bibiano
10/12/2025 | 08h30
São Paulo, 10/12/2025 - O mau hálito crônico, tecnicamente conhecido como halitose, representa um desafio particular para a população adulta, afetando mais de 50% da população mundial acima dos 18 anos, segundo um artigo publicado pelo periódico internacional The Journal Of Dental Hygiene.
Porém, de acordo com a cirurgiã-dentista Bruna Conde, especialista no tema, o problema é ainda mais alarmante na população idosa. Isso porque o mau hálito em pessoas acima dos 65 anos resulta de uma combinação complexa de fatores fisiológicos, medicamentosos e patológicos que tornam essa população mais vulnerável ao desenvolvimento do problema.
1. Boca seca: o principal vilão
Na população adulta em geral, a halitose está mais relacionada a fatores pontuais, como alimentação ou higiene inadequada, explica Conde. Já entre idosos, a principal causa do problema reside na diminuição da produção salivar, conhecida popularmente como boca seca.
Esse é um problema subestimado na terceira idade, mas que tem impacto direto na qualidade de vida dos idosos. Quando a produção de saliva diminui, criamos um ambiente ideal para que bactérias anaeróbicas se multipliquem e produzam compostos sulfurados responsáveis pelo odor desagradável", explica a cirurgiã-dentista.
Ela destaca que o problema pode ser agravado por hábitos como respiração pela boca, que acomete muitos idosos com problemas respiratórios, e pelo consumo insuficiente de líquidos, frequente nesta população.
Conde explica que, com o envelhecimento, as glândulas salivares naturalmente reduzem sua capacidade produtiva, situação que se agrava significativamente pelo uso de medicamentos comuns nesta faixa etária, como anti-hipertensivos, antidepressivos, diuréticos e medicamentos para diabetes.
"A saliva desempenha papel fundamental na limpeza natural da cavidade oral, neutralizando ácidos produzidos por bactérias e removendo restos alimentares que, quando acumulados, favorecem a proliferação de microorganismos causadores da halitose", completa.
2. Doença periodontal
A doença periodontal representa outro fator crítico para o desenvolvimento de halitose em idosos. Popularmente chamada de gengivite, ela aumenta com a idade e afeta cerca de 70% dos adultos com 65 anos ou mais nos Estados Unidos, segundo dados citados pela especialista.
Esse problema é causado especialmente pelo acúmulo de placa bacteriana e tártaro, facilitado pela diminuição da destreza manual para higienização adequada e pela redução do fluxo salivar, podendo causar também periodontite.
"Essas condições criam bolsas periodontais onde bactérias anaeróbicas se proliferam, produzindo toxinas e compostos voláteis que resultam em odor característico e persistente", diz Conde. A situação se agrava quando há sangramento gengival, pois as proteínas do sangue servem como substrato adicional para as bactérias causadoras da halitose.
3. Próteses dentárias
O uso de próteses dentárias, sejam totais, parciais ou fixas, também constitui uma causa específica e comum de mau hálito na maturidade. Isso ocorre porque as próteses podem acumular biofilme bacteriano em sua superfície, especialmente em áreas de difícil limpeza, criando reservatórios de bactérias. Além disso, próteses mal adaptadas podem causar ferimentos na mucosa oral, favorecendo infecções secundárias e agravando o problema do mau hálito.
4. Condições sistêmicas e medicamentos
Para além dos problemas citados acima, a cirurgiã-dentista diz que questões de saúde prevalentes na população idosa contribuem direta ou indiretamente para o desenvolvimento de halitose. "Diabetes mellitus, insuficiência renal, problemas hepáticos, refluxo gastroesofágico e infecções respiratórias podem alterar a composição química do hálito ou favorecer o crescimento bacteriano na cavidade oral".
O uso de múltiplos medicamentos, conhecido como polifarmácia, potencializa o problema através da redução do fluxo salivar e alterações no pH bucal.
Cuidados essenciais
A especialista completa destacando que a prevenção passa por hidratação adequada, higiene bucal rigorosa adaptada às limitações do idoso, limpeza adequada de próteses, teste e tratamento de saliva em consultório odontológico e acompanhamento regular, enfatizando que o problema, embora comum, não deve ser considerado normal ou inevitável no envelhecimento, podendo ser efetivamente controlado com cuidados apropriados.
"É fundamental que familiares e cuidadores compreendam que a halitose em idosos raramente tem uma causa única. O tratamento eficaz requer abordagem multidisciplinar, envolvendo dentista, médico geriatra e, quando necessário, outros especialistas".
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