Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Por Beatriz Duranzi
[email protected]Você já teve a sensação de que o celular estava ouvindo uma conversa sua? Falou algo aleatório com alguém, e pouco depois, ao abrir o navegador ou uma rede social, viu exatamente um anúncio sobre aquilo? Essa coincidência pode não ser apenas fruto da sua imaginação.
Um experimento recente realizado pela empresa de tecnologia NordVPN revelou que, sim, os smartphones têm capacidade de escutar o que você diz, mesmo sem comandos diretos, e usar essas informações para exibir anúncios personalizados.
O teste analisou, na prática, o impacto de conversas aleatórias sobre assuntos que os participantes nunca haviam pesquisado. E os resultados foram claros: poucos dias depois, os anúncios relacionados começaram a pipocar nas redes e nos aplicativos.
O microfone do seu celular está sempre ativo, principalmente para escutar comandos de assistentes virtuais, como a Siri, o Google Assistente ou a Alexa. Junto com esses comandos, ele também pode captar conversas do ambiente.
Quando você aceita os termos de uso de aplicativos, aqueles que geralmente passam despercebidos ao clicar em “concordo” sem ler, muitas vezes está autorizando o acesso ao microfone, à câmera e a outros dados sensíveis.
Esse tipo de permissão, mesmo legalizada pelo consentimento do usuário, pode abrir brechas para o uso indevido ou exagerado das informações captadas. O resultado? Uma experiência digital hiperpersonalizada, que parece saber até o que você pensa ou fala.
Os especialistas sugerem um experimento simples para testar essa possibilidade:
O experimento não é científico, mas tem servido como alerta para o excesso de permissões dadas a aplicativos sem a devida reflexão.
A resposta está nas famosas, e muitas vezes ignoradas, políticas de privacidade. Ao instalar um app, você frequentemente aceita termos que permitem a coleta e o uso de dados, inclusive de áudio, para fins de “melhoria da experiência do usuário” e “oferta de conteúdo relevante”.
Ou seja, ao aceitar, você dá permissão para que suas conversas sejam usadas como base para direcionamento de anúncios.
Mesmo que pareça invasivo, o uso é considerado legal sempre que há consentimento prévio. O problema é que poucos leem os termos, e muitos apps solicitam mais permissões do que realmente precisam para funcionar.
Embora não seja possível evitar completamente a coleta de dados, alguns cuidados simples ajudam a manter sua privacidade mais protegida:
A tecnologia avançou ao ponto de prever desejos e comportamentos antes mesmo que os usuários percebam. Mas isso também exige reflexão sobre até que ponto estamos dispostos a entregar dados, inclusive nossas conversas, em troca de conveniência e personalização.
Em tempos de vigilância constante, a pergunta que fica é: estamos realmente sendo ouvidos pelo celular ou apenas ignorando os sinais? A resposta pode estar, literalmente, no seu bolso.
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