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São Paulo, 17/11/2025 - A nova etapa da operação da Polícia Federal (PF) e da Controladoria-Geral da União (CGU) contra os descontos associativos nos benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) trouxe à pauta, mais uma vez, as fragilidades do sistema previdenciário brasileiro, que convive com crises orçamentárias, filas crescentes, golpes virtuais e presenciais, além de deduções não autorizadas de entidades e de crédito consignado.
Na quinta-feira, 13, a PF cumpriu dez mandados de prisão em nova fase da Operação Sem Desconto. Entre os alvos estavam o ex-presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e operadores de dentro do instituto, como o ex-procurador-chefe, Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho, e o ex-diretor de Benefícios, André Paulo Félix Fidelis.
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Stefanutto e Fidelis, inclusive, teriam recebido propina para interferir nas fiscalizações internas e facilitar Acordos de Cooperação Técnica (ACTs) com entidades fraudulentas.
Enquanto a investigação avançava, a fila para concessão e manutenção dos benefícios da Previdência cresceu, atingindo2,6 milhões de pessoas em agosto, com tempo médio de atendimento de 42 dias – número que chegou a 68 dias nas regiões Norte e Centro-Oeste.
Em outubro, o Programa de Gestão de Benefícios (PGB), criado para reduzir a fila, foi suspenso por falta de orçamento. O INSS pediu ao Ministério da Previdência um reforço de R$ 89,1 milhões.
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Paralelamente, os golpes também se multiplicaram, sobretudo os praticados por recrutadores nas portas das agências, que convencem aposentados a contratar advogados fraudulentos.
Para o advogado e mestre em Direito Previdenciário pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Rodolfo Ramer, o INSS é alvo preferencial de golpistas justamente pelo alto número de pessoas que dependem dos benefícios.
“O INSS é uma instituição gigantesca, que atende toda e qualquer pessoa que trabalha. Toda a população ativa é um membro da Previdência e contribui de alguma forma. Logo, a grande entrada de dinheiro e um controle não tão rigoroso chama muita atenção dos golpistas”, detalha. O advogado ainda reforça que os concursos públicos para servidores estão cada vez mais escassos, o que pode fragilizar ainda mais o controle interno.
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A transição demográfica brasileira, em que a população envelhece mais rápido que nascem crianças, agrava a crise da Previdência, mas não é a única causa, relembra Ramer. “De fato a população brasileira tem vivido mais e a expectativa de vida supera os 76 anos. Pensando nisso, as reformas previdenciárias são essenciais para adequar o sistema, tanto aqui quanto em vários países ao redor do mundo. Mas no Brasil, a crise tem características extras como a corrupção.”
A desconfiança dos brasileiros, especialmente dos aposentados que dependem dos benefícios e são alvo frequente de golpistas, é justificada, segundo o advogado.
“As pessoas idosas são mais suscetíveis às fraudes, justamente por terem, em geral, uma dificuldade tecnológica maior. Então o seguro morreu de velho, a vigilância nunca é demais, ainda mais diante dos descontos não autorizados feitos por instituições bancárias e entidades associativas.”
A primeira etapa da Operação Sem Desconto, deflagrada em abril, apontou que pelo menos R$ 6,3 bilhões foram desviados entre 2019 e 2024 por associações de aposentados, que falsificavam assinaturas e documentos. O Ministério da Previdência calcula que 9 milhões de brasileiros foram lesados e que 3,8 milhões já receberam ressarcimento.
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