Brasília, 29/07/2025 - O
Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve repetir a mesma comunicação do seu último encontro na decisão sobre juros de amanhã, dia 30. A aposta da maioria dos analistas é que a taxa básica de juros, a Selic, será mantida em 15% ao ano. A questão é por quanto tempo. Afinal, um fato novo é o tarifaço. Segundo economistas ouvidos pela Projeções Broadcast, para 36 de 44 instituições consultadas, o juro deve ficar estacionado no atual nível até o final do ano. Oito casas, porém, veem início do afrouxamento monetário ainda neste ano: sete em dezembro e uma em novembro.
"O mais natural é esperar um discurso neutro, sem ter muito viés de ação para os próximos passos", diz a chefe de macroeconomia para o Brasil do UBS Global Wealth Management, Solange Srour.
O colegiado sinalizou na reunião anterior a intenção de deixar a taxa básica no nível atual, que é alto, por período "bastante prolongado", sem determinar um período de tempo, se na próxima reunião, por exemplo - lembrando que o colegiado se reúne a cada 45 dias para avaliar a taxa Selic.
No último dia 18, dois grupos de economistas do mercado financeiro relataram, em reuniões fechadas com diretores do BC, a expectativa de desaceleração mais rápida da inflação, com sinais mais claros de arrefecimento na atividade econômica. As próprias tarifas americanas, se aplicadas, resultariam em uma diminuição do
Produto Interno Bruto (PIB) e um aumento da oferta de produtos no mercado doméstico, contribuindo assim para reduzir a inflação medida pelo IPCA.
Afinal, se as empresas produzem menos e tomam menos crédito, causando redução do PIB, o BC pode decidir reduzir a taxa Selic para tentar fazer com que a economia volte a girar.
Mas a autoridade monetária ainda tem outros desafios no horizonte. Em primeiro lugar, ainda que as expectativas de inflação possam ter caído, as projeções continuam acima do centro da meta estabelecida pelo
Conselho Monetário Nacional (CMN) - que é de 3%, com margem para cima e para baixo de 1,5%.
A resiliência do mercado de trabalho permanece, com a
taxa de desemprego orbitando os menores níveis da série histórica. Na teoria macroeconômica, se o nível de emprego é aquecido, resulta em maior renda e propensão ao consumo, e o remédio via política monetária é dose mais alta de juros para conter a pressão inflacionária.
Uma retaliação aos EUA poderia colocar em xeque o efeito desinflacionário das tarifas. "Acho que o Copom vai colocar um risco em relação às
tarifas, sem dar muito viés", diz Srour.
O economista do Santander Marco Caruso, calcula que, com as mudanças no cenário, a projeção do BC para o horizonte relevante da política monetária, que nesta reunião passa do fim de 2026 para o primeiro trimestre de 2027, pode cair marginalmente, para 3,3%.
"No fim do dia, o desafio é dar sinais de que o 'bastante prolongado' é de fato 'bastante prolongado', porque menos atividade e menos
inflação poderiam conversar com uma empolgação do mercado com o ciclo. Mas, como esses são os primeiros capítulos de uma melhora, ele não deve jogar luz nisso", diz Caruso. "O Copom provavelmente deveria mexer o mínimo possível, para não mudar uma estratégia que parece estar sendo vencedora."
Na mesma linha, o economista-sênior e sócio da Tendências Consultoria Integrada Silvio Campos Neto avalia que a evolução dos dados e indicadores até aqui indicam a manutenção de um discurso mais cauteloso por parte do Copom.
"Ele poderia, inclusive, manter a sinalização de que, em caso de necessidade, estaria pronto para aumentar a taxa Selic. É uma coisa pouco provável, e eu diria até que improvável. Mas pode usar essa sinalização para minimizar a percepção, no mercado, de que uma queda dos juros estaria próxima", afirma o analista.