Washington e Brasília, 03/09/2025 - A investigação capitaneada pelos Estados Unidos para apurar
práticas ilegais do Brasil, que tem como alvo do sistema de pagamento eletrônico Pix ao desmatamento ilegal, será debatida em audiência pública, pela primeira vez. Integrantes da iniciativa privada brasileira e americana se reúnem em Washington (DC) para discutir o processo, enquanto o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro domina os debates em Brasília.
A audiência pública começa às 11h (horário de Brasília) desta quarta-feira e está relacionada ao processo contra o Brasil, aberto em 15 de julho pelo Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR, na sigla em inglês), com base na Seção 301 da Lei de Comércio.
Os americanos acusam o País de adotar práticas ilegais em comércio digital, serviços de pagamento eletrônico - como o Pix -, tarifas preferenciais, proteção de propriedade intelectual, acesso ao mercado de etanol e questões ambientais, como o desmatamento ilegal.
Entre os presentes estarão o ex-embaixador Roberto Azevedo, que representa a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o vice-presidente de Relações com o Governo da Embraer, Dan Hickey, além de representantes de diversas entidades, como o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA) e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). No total, 45 pessoas pediram ao USTR para participar da audiência.
A investigação do USTR foi uma estratégia dos EUA para ganhar terreno caso a Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional (IEEPA), que impôs tarifa de 50% ao Brasil, não se sustentasse. Diferentemente de outros países tarifados, os Estados Unidos registram superávit na balança comercial com o Brasil.
A taxação foi justificada, sobretudo, como resposta ao tratamento dado pelo governo brasileiro a Bolsonaro e a decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) contra empresas americanas de tecnologia. O presidente Donald Trump afirmou hoje que países como Brasil, China e Índia, "matam" os EUA com a "alta quantidade" de tarifas que aplicam.
A audiência pública do USTR foi dividida em seis painéis, conforme cronograma obtido pela Broadcast. No primeiro, Roberto Azevedo deve depor em nome da CNI ao lado de Ed Brzytwa, vice-presidente de Comércio Internacional da Consumer Technology Association (CTA), e Husani Durans de Jesus, representante do Information Technology Industry Council (ITI), entre outros.
No encerramento, deverão discursar representantes de setores como químico, máquinas e equipamentos, cerâmica e produtos pet. Não foram divulgados os tempos de cada debate.
Uma missão da CNI está em Washington para a audiência do USTR e para discutir a relação comercial e o tarifaço dos EUA. A CNI e a CNA enviaram a defesa em 18 de agosto.
Nesta terça-feira, integrantes da comitiva participaram de uma reunião de alinhamento na embaixada brasileira, em Washington, com a embaixadora Maria Luiza Ribeiro Viotti. "Nós temos que desmistificar o problema do desmatamento, desmistificar o problema dos meios de pagamento, no caso do Pix, desmistificar o problema de que talvez nós não temos as devidas cobranças na parte do Judiciário e mais outros pontos comerciais que são importantes", disse o presidente da CNI, na reunião.
O objetivo da missão é reverter o tarifaço de 50% dos EUA contra o Brasil e ainda evitar novas sanções ao País. Há temor de que os americanos endureçam medidas em retaliação
ao julgamento de Bolsonaro e outros sete réus, iniciado hoje e que será retomado nesta quarta-feira, dia 3.
A comitiva da CNI reúne cerca de 130 representantes. A agenda em Washington inclui reuniões com empresários e parlamentares norte-americanos, encontros bilaterais com instituições parceiras e uma plenária com representantes do setor público e privado dos dois países.
O primeiro compromisso será uma reunião sobre o panorama da relação comercial Brasil-EUA no contexto das tarifas e a estratégia da missão, às 8h30 (horário de Brasília). O encontro será conduzido pelo escritório de lobby Ballard Partners - ligado ao presidente Donald Trump e contratado pela CNI para defender o Brasil do tarifaço.
Na sequência, a missão se divide: parte dos integrantes vai ao Capitólio, enquanto outros participam da audiência pública do USTR. Também estão previstas reuniões bilaterais entre instituições brasileiras e suas contrapartes nos EUA.
Na quinta-feira, dia 4, ocorre um diálogo empresarial Brasil-EUA, a partir das 8h45, para discutir impactos comerciais e estratégias de aprofundamento da parceria econômica entre os dois países.