São Paulo, 22/10/2025 - Em uma palestra contundente realizada em São Paulo ontem, durante o
XVIII Fórum da Longevidade, do Grupo Bradesco Seguros, a renomada médica Margareth Dalcolmo destacou a urgência de proteger as novas gerações das doenças mais prevalentes, enfatizando a importância do conceito de saúde global. Ela, que é um ícone nacional no tratamento de doenças respiratórias e uma voz ativa em políticas públicas de saúde, abordou a maneira como a saúde está interligada com o ambiente urbano, as mudanças climáticas e a prevenção ao tabagismo.
Membro titular da Academia Nacional de Medicina e uma das vozes mais atuantes durante a pandemia de covid-19, a médica sublinhou a evolução do conceito de saúde global desde seu surgimento em 2001. Longe de se limitar ao tratamento de doenças, ela explicou que a saúde global integra o bem-estar humano, o meio ambiente e até mesmo o mundo animal.
"Nada é mais atual e contemporâneo do que o que estamos vivendo no Brasil", afirmou, destacando o iminente envelhecimento da população brasileira e a falta de infraestrutura adequada nas cidades para suportar essa mudança demográfica.
Durante sua apresentação, Dalcolmo também mencionou as implicações dos desastres climáticos na saúde, alertando para a alta probabilidade de eventos pandêmicos significativos nas próximas décadas. Com base um recente estudo do periódico internacional The Lancet, ela destacou que há uma chance de 48% de uma nova pandemia causar um milhão de mortes em todo o mundo nos próximos dez anos.
Nova onda de tabagismo
A questão do tabagismo também foi um foco central do discurso da especialista em pneumologia. Dalcolmo expressou preocupação com o aumento do número de fumantes no Brasil, especialmente entre os jovens que usam dispositivos eletrônicos. Citando pesquisas recentes, ela alertou sobre os perigos desses dispositivos, que contêm níveis de nicotina até 100 vezes superiores aos dos cigarros convencionais, além de outros compostos cancerígenos.
"A sociedade civil precisa saber e agir para proteger nossas crianças e adolescentes", disse, destacando a necessidade de promover uma longevidade ativa e de repensar o ambiente urbano para melhorar a qualidade de vida de uma população majoritariamente urbana.
Ela também criticou movimentos, inclusive no Congresso Nacional, que defendem a liberação dos
cigarros eletrônicos sob o argumento de aumentar a arrecadação. "Como pode obter imposto sobre algo que mata e faz mal?", questionou. "Se obtivermos R$ 2 bilhões de imposto arrecadado com isso, nós vamos gastar R$ 100 bilhões para manter vivas pessoas de 30 anos de idade que vão ter doenças que hoje ocorrem ao 70 e ao 80, que são
enfisema pulmonar e câncer do pulmão", completou, alertando para o impacto econômico negativo que a liberação desse tipo de produto pode acarretar ao sistema de saúde.
Por fim, Dalcolmo reforçou a importância de previnir esse hábito para que as próximas gerações tenham uma vida longa e mais saudável. "Precisamos proteger nossas cidades, nossos ambientes e, sobretudo, as novas gerações contra as doenças que geram maior demanda e custo para o sistema de saúde", concluiu, destacando a necessidade de integrar saúde global, longevidade ativa e qualidade de vida às políticas de desenvolvimento urbano e ambiental.