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Por Joyce Canele
redacao@viva.com.brSão Paulo, 05/09/2025 - Um dispositivo médico do tamanho de uma carta de baralho pode transformar a forma como doenças cardíacas são identificadas nos consultórios. Trata-se de um estetoscópio com inteligência artificial (IA), capaz de detectar em apenas 15 segundos três problemas graves: insuficiência cardíaca, fibrilação atrial e doenças das válvulas do coração.
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A tecnologia foi apresentada durante o congresso anual da Sociedade Europeia de Cardiologia, em Madri, e já demonstrou resultados promissores em um dos maiores testes de campo envolvendo atenção primária no Reino Unido.
O estudo, conduzido por pesquisadores do Imperial College Healthcare NHS Trust, acompanhou mais de 1,5 milhão de pacientes em mais de 200 clínicas médicas.
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De acordo com os pesquisadores, pacientes avaliados com o novo estetoscópio tiveram até o dobro de chances de receber diagnóstico precoce de insuficiência cardíaca em comparação com aqueles atendidos sem o dispositivo.
O mesmo ocorreu com a fibrilação atrial, ritmo irregular que aumenta o risco de AVC, e com doenças das válvulas cardíacas, condições que frequentemente passam despercebidas até atingirem estágios avançados.
A maioria dos diagnósticos de insuficiência cardíaca ainda ocorre em emergências hospitalares, quando o paciente já apresenta quadro grave. A detecção precoce poderia permitir início imediato de tratamentos que aumentam a qualidade e a expectativa de vida.
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O estetoscópio inteligente registra simultaneamente os sons do fluxo sanguíneo e um eletrocardiograma (ECG) de curta duração.
Os dados são enviados para a nuvem, onde algoritmos treinados com milhares de exames analisam sinais sutis, muitas vezes imperceptíveis ao ouvido humano.
O resultado chega rapidamente ao smartphone do médico, indicando se há risco de doença cardíaca.
Nos testes, pacientes atendidos com o aparelho tiveram 2,33 vezes mais chances de serem diagnosticados com insuficiência cardíaca, 3,45 vezes mais de receberem diagnóstico de fibrilação atrial e 1,92 vezes mais de apresentarem doença valvar nos 12 meses seguintes à consulta.
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Apesar dos resultados, a pesquisa também revelou obstáculos. Cerca de 70% das clínicas que receberam o dispositivo deixaram de utilizá-lo regularmente após um ano.
Para os cientistas, isso mostra a necessidade de adaptar a rotina médica e integrar a tecnologia de forma prática no dia a dia dos profissionais de saúde.
Outro ponto é a taxa de falsos positivos: em dois terços dos casos suspeitos de insuficiência cardíaca, exames complementares descartaram a condição.
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Embora isso possa gerar ansiedade e testes adicionais, especialistas avaliam que os benefícios superam os riscos, já que pacientes que poderiam passar despercebidos tiveram acesso a uma investigação mais aprofundada.
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Embora ainda existam desafios para sua adoção em larga escala, o estetoscópio com IA abre caminho para uma nova era da medicina preventiva, em que um simples exame de 15 segundos pode significar anos a mais de vida com qualidade.
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