Foto: Envato Elements
Por Joyce Canele
redacao@viva.com.brSão Paulo, 21/11/2025 - Uma nova linha de investigação sobre o Alzheimer começa a ganhar força com a conclusão de um estudo conduzido pelo laboratório do neurocientista Eduardo Zimmer, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
A pesquisa, publicada na revista científica Nature Neuroscience neste mês, aponta que a inflamação no cérebro pode ser o elemento decisivo para que a doença se instale e avance, abrindo caminho para tratamentos que vão além do combate às conhecidas placas de proteínas.
Leia também:Não é impressão sua, é ciência: instabilidade política e social afeta sua saúde
A descoberta surgiu a partir de exames de imagem de última geração e biomarcadores altamente sensíveis que permitiram observar, pela primeira vez em pacientes vivos, a interação entre dois tipos de células essenciais para a resposta imune do sistema nervoso central: astrócitos e microglias.
Ambas desempenham funções cruciais na comunicação neuronal e na proteção do tecido cerebral. No entanto, o estudo mostra que a progressão do Alzheimer depende do estado reativo simultâneo dessas duas células.
Leia também: Brasil desenvolve exame inovador para diagnóstico precoce do Alzheimer; veja
Os pesquisadores verificaram que o acúmulo das proteínas beta-amiloide e tau, que formam estruturas rígidas e insolúveis no cérebro, não é suficiente para provocar alterações na cognição quando apenas os astrócitos estão ativados.
O avanço da doença só ocorre quando a microglia também entra em estado de alerta. Nesse cenário, os astrócitos passam a aderir às placas de beta-amiloide e contribuem para a inflamação persistente que compromete a função cerebral.
A combinação desses fatores ajudou a explicar grande parte da piora cognitiva observada nos participantes do estudo.
Leia também: Estas 2 profissões podem reduzir o risco de Alzheimer, segundo estudo da Harvard
Embora a ciência ainda não tenha identificado por que as placas de beta-amiloide começam a se formar, os pesquisadores destacam que fatores genéticos e ambientais influenciam o processo.
Hábitos acumulados ao longo da vida, como alimentação inadequada, consumo excessivo de álcool, tabagismo, sedentarismo e obesidade, aumentam o risco de desenvolvimento da doença.
Em contrapartida, práticas como atividade física regular, sono de boa qualidade e estímulos intelectuais frequentes ajudam a reduzir as chances de aparecimento do Alzheimer.
Leia também: Qual o segredo da memória dos superidosos? Pesquisadores revelam descobertas
A nova interpretação proposta pela equipe da UFRGS indica que a estratégia terapêutica adotada nos últimos anos pode precisar de revisão.
Em vez de focar apenas na remoção das placas de proteína, o estudo sugere que medicamentos futuros deverão atuar também na comunicação entre astrócitos e microglias, diminuindo o estado inflamatório que parece sustentar a progressão do Alzheimer.
O projeto contou com apoio do Instituto Serrapilheira e amplia o entendimento sobre os mecanismos do Alzheimer, abrindo espaço para abordagens mais eficazes e personalizadas no diagnóstico e no tratamento.
Política de comentários
Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.
Gostou? Compartilhe
Tarifas