Número de médicos em SP cresce, mas distribuição é desigual; faltam geriatras
Envato
10/12/2025 | 11h53
São Paulo, 10/12/2025 - Ao final de 2025, São Paulo contará com aproximadamente 197 mil médicos. O levantamento projeta um aumento expressivo da oferta nos próximos anos, quando o número de profissionais poderá ultrapassar 235 mil em 2030, chegando à marca de 340 mil profissionais ao final da década.
Os dados fazem parte da nova Demografia Médica do Estado de São Paulo, lançada em conjunto nesta quarta-feira pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), a Associação Paulista de Medicina (APM) e a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP).
De acordo com o documento, o crescimento acelerado fará com que a razão de médicos por habitantes suba de quatro por mil habitantes em 2025 para sete por mil em 2035. Apesar do aumento geral, a distribuição permanecerá desigual. Enquanto em 2025 a região de Ribeirão Preto dispõe de 5,2 médicos por mil habitantes, a cidade de Registro, no interior, tem apenas 2,1 médicos a cada mil pessoas.
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Mais faculdades de medicina
Os dados contrastam com a ampliação nos últimos anos dos cursos de medicina: São Paulo chega a 2025 com 87 escolas médicas em funcionamento ou com abertura autorizada pelo Ministério da Educação (MEC). Há dez anos, em 2015, eram 47 escolas.
O crescimento acelerado vem acompanhado de mudanças no perfil do ensino médico, cada vez mais delegado ao setor privado, com 92% das vagas em faculdades particulares e com maior presença de instituições no interior. O que, segundo o dados, não se reflete em mais médicos nessas cidades.
"Estamos preocupados com o avanço absurdo dos cursos de Medicina por todo País, que só visam lucro. No Estado de São Paulo, apesar de termos faculdades sérias, também observamos a proliferação de cursos que preocupam pela má qualidade", diz o presidente da APM e professor da Santa Casa de São Paulo, Antonio José Gonçalves.
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Outro problema apontado por Gonçalves é o aumento de médicos generalistas. Ele observa que a especialização é fundamental para o profissional e para toda sociedade, porém, os dados da demografia mostram que atualmente 40% dos profissionais não têm especialização. Embora seja menor proporcionalmente, esse grupo foi o que mais cresceu desde 2000, quando os generalistas representavam menos de 25%.
Segundo o representante da APM, o fenômeno está relacionado, dentre outros fatores, à expansão do ensino privado e à insuficiência de vagas de residência médica para todos os médicos recém-formados, especialmente longe da Grande São Paulo, fazendo com que muitos profissionais migrem para essa região em busca de especialização, o que afeta diretamente a quantidade de profissionais qualificados nos demais estados.
"A abertura indiscriminada de cursos de medicina e o crescimento acelerado do número de médicos generalistas, uma vez que não há vagas de residência médica para todos, são uma grande preocupação da APM e de todo o movimento associativo", afirma Gonçalves.
Faltam médicos para os idosos
Apesar do envelhecimento da população em nível estadual, o número de profissionais de geriatria ainda é considerado baixo, com apenas 1.224 médicos de São Paulo cadastrados nessa especialidade. Para vias de comparação, pediatria conta com 15.238 médicos e clínica geral com mais de 18 mil.
Dentre os geriatras, 52% estão na capital e apenas 6,4% em cidades do interior com menos de 100 mil habitantes, geralmente consideradas mais atraentes para quem busca um envelhecimento saudável, aponta Gonçalves.
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A falta de residência médica específica nessa área também chama a atenção: em 2025, das 1.779 vagas em residência ofertadas no Estado, apenas 10 foram direcionadas para essa especialidade, com 63 de candidatos interessados.
Apesar de baixa, a oferta representa mais que o dobro de 2024, quando apenas quatro vagas de residência em geriatria foram ofertadas no Estado.

Mais médicas
Os dados apresentados hoje mostram também que o perfil dos médicos em São Paulo vem apresentando mudanças. As mulheres consolidaram-se como maioria e, em 2025, passaram a representar 52% do total desses profissionais. Segundo a APM, a tendência de feminização é contundente: a projeção é de que elas passem a representar 70% da população de médicos na próxima década.
Atualmente, as médicas predominam em 22 das 55 especialidades, sendo maioria expressiva (mais de 60%) em áreas como pediatria, geriatria, ginecologia e obstetrícia, e medicina de família e comunidade.
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“A feminização da medicina brasileira é uma conquista irreversível. Esse fato reflete o momento de transformação que vivemos, mas também impõe novos compromissos. Precisamos garantir que essa superioridade numérica venha acompanhada de equidade real em cargos de chefia, remuneração e condições de trabalho compatíveis com a realidade da mulher contemporânea”, analisa a diretora da FMUSP, Eloisa Bonfá.
Concentração no setor privado
Um dos destaques do levantamento é a análise sobre a atuação dos cirurgiões paulistas, que evidencia a forte atração exercida pelo setor privado, considerando que, no estado, 40% das pessoas têm planos de saúde. Os dados revelam que a "dupla prática", quando o profissional atua simultaneamente nos setores público e privado, é a modalidade de trabalho de quase 70% desses especialistas.
Já aqueles que atuam exclusivamente na rede privada somam 26%, enquanto menos de 7% se dedicam apenas à rede pública. Para os pesquisadores, esse cenário reduz a disponibilidade de profissionais para a parcela da população que depende exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS).
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