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Terapia hormonal na menopausa causa AVC? Entenda a relação

Foto: Envato Elements

Uso de terapia hormonal para aliviar os sintomas da menopausa e climatério gera debate - Foto: Envato Elements
Uso de terapia hormonal para aliviar os sintomas da menopausa e climatério gera debate
Bianca Bibiano
Por Bianca Bibiano bianca.bibiano@viva.com.br

Publicado em 30/10/2025, às 08h56

São Paulo, 29/10/2025 - Embora seja cada vez mais segura e difundida na medicina, o uso de terapia hormonal para aliviar os sintomas da menopausa e climatério ainda gera muitos debates. Um deles é a sua relação com casos de Acidente Vascular Cerebral (AVC).

O AVC é uma das principais causas de morte e incapacidade no Brasil e tem inúmeras origens, podendo acometer qualquer pessoa, desde bebês até pessoas idosas. Apenas este ano, até 1º de outubro, mais de 64 mil brasileiros morreram dessa causa, de acordo com dados do Portal da Transparência dos Cartórios de Registro Civil do Brasil.

Ao longo da vida, as mulheres são menos acometidas que os homens por essa causa de morte, mas quando chega a menopausa, o risco aumenta para elas, podendo dobrar em até dez anos após o fim da fase reprodutiva, somando-se a outros fatores de risco:

ilustração sobre Riscos de Acidente Vascular Cerebral em mulheres idosas

De acordo com a médica endocrinologista Cristina Schreiber, do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), estudos realizados nos últimos anos mostraram que altas doses de reposição hormonal estão ligadas a maior risco de AVC, porém, apenas nos casos de ingestão oral de hormônios - algo desencorajado atualmente pelos especialistas.

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"As terapias mais seguras hoje são feitas com o hormônio estrógeno e aplicadas por via transdérmica, ou seja, pelo contato direto com a pele. Essas não aumentam os riscos de AVC na menopausa, desde que a mulher não tenha contraindicação absoluta, como histórico de câncer de mama, ser hormônio dependente, ter diabetes, hipertensão, ser fumante ou ter tido trombose ou AVC prévios", disse em entrevista ao Viva. Por isso, frisa, é importante individualizar o histórico de cada paciente.

Nesse sentido, a médica ressalta que a terapia hormonal, quando utilizada corretamente e por pacientes sem contraindicação, oferece mais benefícios que riscos, especialmente por atenuar sintomas vasomotores ligados a ondas de calor, os fogachos, problemas ligados ao aparelho genital e urinário e até perda de memória de trabalho, que acometem boa parte durante a menopausa.

Tem idade certa para usar terapia hormonal?

Segundo a médica Cristina Schnaider, para ser considerado seguro, o uso de terapia hormonal na perimenopausa deve acontecer dentro de uma "janela de oportunidade", geralmente entre os 50 e 59 anos ou dentro de seis anos após o aparecimento dos sintomas. "Após essa fase, os efeitos podem ser negativos. Em mulheres mais velhas nós buscamos outras soluções de tratamento para atuar diretamente nos sintomas específicos da pós-menopausa".

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Uma vez iniciado, o tratamento pode seguir por vários anos. O uso será suspenso caso apresente algum efeito colateral, completa a médica.

"Enquanto os benefícios superarem os riscos, a mulher terá indicação de uso, mas desde que faça acompanhamento a cada seis meses e exames anuais de mamografia e outros". 

Tratamentos manipulados para menopausa são seguros?

Schnaider alerta que os únicos tratamentos hormonais para tratar sintomas da menopausa considerados seguros hoje são fabricados por farmacêuticas cadastradas na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Diz ainda que as opções manipuladas, amplamente divulgadas nas redes sociais, são proibidas e não oferecem nenhuma segurança aos pacientes, podendo piorar os sintomas e levar a quadros graves de saúde, incluindo AVC.

A médica diz que não é incomum encontrar casos de mulheres que pagaram até R$ 12 mil em implantes hormonais que ofereciam melhora da fadiga, na pele e cabelos, mas que acabaram causando aumento de acne, pelos, celulite e até alteração na voz.

Os chamados 'chips da beleza' e outras promessas com 'hormônios bioidênticos' são um problema de saúde pública. Eles são vendidos como solução para o cansaço da mulher 50+, mas entregam hormônios de uma forma não estudada e sem validação científica."

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Um dos riscos é o uso de testosterona, que aparece em algumas composições manipuladas e não deveria ser utilizado por mulheres de modo geral. Esse tipo de hormônio, utilizado apenas em homens, está atualmente ligado ao risco de AVC no sexo feminino.

"A manipulação de hormônios, mesmo em gel, é altamente complexa e não há parâmetros de segurança para manipular um hormônio individual, para cada paciente, com a tecnologia que temos hoje no País."

O que reduz o risco de AVC após a menopausa?

Um estudo internacional publicado este ano pela Sociedade Internacional de Menopausa (International Menopause Society, em inglês) indica que o manejo dos sintomas da menopausa e o envelhecimento saudável dependem diretamente de mudanças no estilo de vida, e não apenas de terapias hormonais. 

O artigo analisou mais de duas décadas de pesquisas e comprovou que a adoção de hábitos saudáveis como alimentação equilibrada, prática regular de atividade física, sono adequado, gerenciamento do estresse e saúde mental, relações sociais saudáveis e redução de álcool e tabaco têm efeito direto sobre sintomas, risco cardiovascular, densidade óssea e bem-estar emocional.

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Segundo a edocrinologista e metabologista Tassiane Alvarenga, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), a pesquisa comprova que esses fatores não são apenas coadjuvantes, mas parte essencial do tratamento. "A menopausa não é apenas sobre hormônios, é sobre o terreno onde eles atuam. Alimentação, sono, movimento, conexões sociais e equilíbrio emocional são pilares que transformam a experiência dessa fase".

Ela destaca ainda que a terapia hormonal continua sendo segura e eficaz e que seu efeito é potencializado quando o corpo e a mente estão em equilíbrio.

Mulheres fisicamente ativas e com hábitos saudáveis têm menor intensidade de ondas de calor, melhor qualidade do sono e menor risco de síndrome metabólica, mesmo sem reposição hormonal", diz.

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