Envato
 
 Por Luísa Giraldo, especial para o Viva
redacao@viva.com.brSão Paulo, 27/10/2025 - Independentemente da idade, papear sobre menopausa se tornou cult. O processo de envelhecimento feminino é, em geral, doloroso não só devido aos fatores físicos, mas também à pressão estética e ao culto à juventude. O fim natural da fase reprodutiva da mulher sempre esteve envolto por tabus estruturais, assim como a menstruação.
Mas um novo olhar para as mudanças estruturais do corpo na maturidade tem se destacado, especialmente no meio cultural, que acompanhou o movimento de ressignificação da menopausa ao oferecer essa abordagem em livros, séries, peças e podcasts. São narrativas que desfazem tabus, incentivam o fortalecimento feminino e promovem o cuidado como caminho para uma qualidade de vida plena.
“A percepção da menopausa como ponto de virada, apesar dos desafios, pode significar o início de um momento de liberdade.”
A afirmação é do médico psiquiatra Rafael Lopes, especializado em saúde feminina e que atende diariamente pacientes que vivenciam o climatério. Ele observa que o olhar sobre a menopausa está em plena reconstrução e ressalta o papel do autocuidado emocional para uma boa qualidade de vida.
“Após o período de adaptação, muitas pacientes relatam que se sentem mais seguras de quem são, com menos necessidade de corresponder aos papéis sociais impostos e mais clareza sobre o que desejam priorizar na vida”, avalia.
Leia também: Especialistas comentam 7 mitos e fatos sobre a menopausa
Segundo Lopes, a perimenopausa é também um dos períodos de maior risco de adoecimento mental. O psiquiatra ressalta que, além de reconhecer o papel das alterações psíquicas, é fundamental refletir sobre a influência dos aspectos psicossociais envolvidos no processo de transformação do corpo feminino.
A ressignificação da menopausa se manifesta no campo das ciências em um movimento que impulsiona a expansão de conhecimento sobre a saúde feminina. Historicamente sub-representadas em estudos, as mulheres vivem um momento de descobertas sobre as possibilidades e efeitos biológicos dessa fase.
Leia também: Climatério e menopausa movimentam mercado milionário, aponta pesquisa
Apostas em novas pesquisas também permitiram a reabilitação da terapia hormonal, que, após anos de desconfiança, ressurgiu nas diretrizes médicas com maior segurança.
“Essa mudança no olhar passa justamente pelo entendimento que, embora o corpo mude, a vitalidade permanece e pode se manifestar de outras formas. Quando mudamos a perspectiva, a menopausa deixa de ser um fim e passa a ser um novo começo. Essa é a maior potência da ressignificação da fase”, acrescenta Lopes.
A educadora sexual Clariana Leal descreve a discussão sobre a menopausa como crucial, principalmente devido ao histórico de silenciamento feminino. A especialista pontua que, em geral, as mulheres se sentiam confusas e perdidas durante o processo de envelhecimento.
“Não há experiência mais enlouquecedora e cruel do que não saber o que seu corpo está dizendo. Ficamos vulneráveis e enfraquecidas por não termos as ferramentas de informação necessárias. Com elas, somos muito mais fortes e lidamos com esse período de forma muito mais presente e natural.”
O mercado consumidor mais velho cresceu nas últimas décadas, sobretudo no Brasil. O avanço da ciência e a melhora da qualidade de vida aumentaram a longevidade da população. Dados do Censo 2022, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam que existem 33 milhões de brasileiras na faixa dos 40 aos 65 anos, momento do climatério.
Leia também: Sintomas da menopausa são ignorados por 44% das brasileiras, revela pesquisa
No entanto, não são apenas mulheres maduras que consomem esses produtos culturais. Como forma de autocuidado e preparação do corpo, jovens buscam cada vez mais se informar sobre os efeitos da menopausa nas saúdes física e mental.
A trend “Como vou ter medo de envelhecer se…” é um exemplo que viralizou em 2025. No Tik Tok e no Instagram, jovens gravam familiares mais velhas com o objetivo de mostrar que a feminilidade não está vinculada à juventude. É uma nova abordagem do envelhecimento feminino.
Vídeos semelhantes indicam que a quebra de tabus está ganhando força nas redes sociais. Os meios digitais se transformaram em espaços de acolhimento, desabafos e buscas por informações do corpo feminino, sobretudo após o movimento #MeToo, que encorajou mulheres a quebrarem o silêncio e impulsionou uma nova era de discussões abertas sobre saúde e autonomia.
Perfis como @shareyoursx, @mjferreira e @ser.intime, gerenciados por especialistas de âmbitos diversos da saúde feminina, compartilham publicações sobre autocuidado, sexualidade e prazer. A criação de conteúdo sobre menopausa e climatério são apenas algumas vertentes dessa onda.
A menopausa e a perimenopausa deixaram de ser temas de nicho e invadiram o mainstream. As plataformas de entretenimento e o mercado editorial têm investido em narrativas que, além de divertir, quebram o silêncio, expõem a complexidade do climatério e oferecem informação crucial para o público que busca se reconhecer nessa fase da vida.
O Viva selecionou nove produtos culturais que dão protagonismo à menopausa e ao envelhecimento feminino. Confira a lista abaixo:
Leia também: "O etarismo que me excluiu também me fortaleceu", diz Maria Cândida
Leia também: Menopausa: a nova conversa sobre envelhecimento, saúde e autonomia feminina
A menopausa corresponde à ausência da menstruação por 12 meses consecutivos, cuja maior incidência no Brasil é entre os 48 e os 50 anos. O climatério abrange o período mais amplo dessa transição, dos 40 aos 65 anos, quando é iniciada a perimenopausa. Nesta fase, surgem as manifestações iniciais de queda hormonal, como ciclos menstruais irregulares. Logo após, vem a pós-menopausa, que acompanha a mulher até o final da vida.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o marco biológico da menopausa também sinaliza o fim da fase reprodutiva feminina. Até 2030, um bilhão de mulheres passarão por esse estágio da vida, estima o órgão. A condição integra, desde 2022, a Classificação Internacional de Doenças (CID), sob o código N95, o que enfatiza a conscientização sobre os sintomas físicos e mentais.
Leia também: Rotina saudável ajuda a combater insônia na menopausa, diz especialista
Os sinais são diversos e podem se manifestar de formas diferentes. Os mais comuns englobam ondas de calor (fogachos), suores noturnos, alterações de sono, ressecamento vaginal, diminuição da libido, mudanças de humor, ganho de peso e dificuldade de concentração.
A pesquisa “Experiência e Atitudes na Menopausa”, conduzida pela farmacêutica Astellas em seis países, revelou que as brasileiras estão entre as que mais sofrem os impactos negativos desse período. O estudo indica que oito a cada dez mulheres já sentiram sintomas psicológicos adversos devido à menopausa. Os principais são: ansiedade (58%), depressão (26%), constrangimento (20%) e vergonha (16%).
Esse índice é significativamente maior do que a média global: cerca de 65% das participantes relataram esse tipo de impacto. O contraste sugere que as brasileiras enfrentam um fardo psicológico mais elevado. Até a ressignificação da menopausa por parte da ciência e da cultura pop, elas sofriam com estigmas sociais em silêncio.
Leia também: Especialistas explicam sintoma do ombro congelado na menopausa
A sexóloga Clariana Leal reconhece que a desinformação sobre a menopausa e seus efeitos atingiu as mulheres por décadas. “Havia um silêncio sobre tudo que envolvia o antes e o depois desse período”, reflete ela.
"É vital ter iluminação, informação e acesso para que todos entendam que a menopausa vai acontecer. É essencial que as mulheres se preparem psicologicamente e sejam acompanhadas por médicos especializados.”
Em sintonia, o psiquiatra Rafael Lopes avalia que, do ponto de vista psiquiátrico, a abordagem deve ser integral: manejar sintomas físicos, hormonais e psíquicos. Porém, ele destaca a importância de um espaço para que a mulher reflita sobre essa transição, com seus ganhos e perdas.
Política de comentários
Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.
Gostou? Compartilhe
 Energia
 Energia  
 