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Muito além do colchão: o impacto das noites mal dormidas na vida da pessoa idosa

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Dormir mal não é saudável em nenhuma idade, mas na maturidade pode levar ao agravamento de doenças crônicas e até sarcopenia - Envato
Dormir mal não é saudável em nenhuma idade, mas na maturidade pode levar ao agravamento de doenças crônicas e até sarcopenia
Bianca Bibiano
Por Bianca Bibiano bianca.bibiano@viva.com.br

Publicado em 23/10/2025, às 12h34

São Paulo, 23/10/2025 - Com a chegada da Black Friday, os anúncios de colchão enchem os celulares, prometendo noites de sono perfeitas. Contudo, a médica neurologista Dalva Poyares, do Instituto do Sono, alerta que, principalmente para pessoas idosas, dormir bem envolve muito mais do que apenas um colchão ou um travesseiro de qualidade. "O sono adequado é essencial em todas as fases da vida, mas na velhice, ele pode impactar diretamente a saúde física e mental", afirma.
"Existe um conjunto de questões que interferem na qualidade do sono, desde ser ativo física e mentalmente até questões sociais e econômicas, passando pelo medo da morte ou a perda de amigos e familiares, por doenças, dores, perdas nos sentidos e alterações metabólicas, que são mais comuns quando as pessoas vão ficando idosas", destacou em entrevista ao Viva.
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Dalva Poyares: "Manter-se ativo fisicamente e mentalmente é vital para dormir bem na velhice" - Divulgação: Instituto do Sono
O problema, observa a médica, é que dormir mal no longo prazo leva a questões graves, como a piora de doenças crônicas e de sarcopenia, que é a perda de massa muscular. Durante o recente World Sleep Society 2025, um dos mais importantes congressos globais sobre sono e distúrbios relacionados, Poyares conduziu um painel sobre como a perda da massa afeta o sono em idosos e disse que diversos trabalhos científicos apresentados mostraram que isso pode reduzir a expectativa de vida. 
"É um ciclo perigoso. Idosos com sarcopenia tendem a ter mais apneia e insônia, o que por sua vez piora a condição muscular, levando a uma piora no sono."
Para a neurologista, a maneira de reverter ou ao menos minimizar esses prejuízos é promover a qualidade de vida. "Manter-se ativo fisicamente e mentalmente é vital não só para prevenir a sarcopenia, mas para melhorar o sono em geral, e em qualquer idade."
Ela enfatiza que o sedentarismo, por exemplo, pode levar à obesidade sarcopênica, aumentando o risco de apneia e outros problemas de sono. "A melhor estratégia é construir uma 'poupança' de massa magra ao longo da vida, que possa contribuir para a qualidade de vida ao envelhecer, e claro, seguir uma rotina ativa sempre", recomenda.
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Impactos negativos no cérebro

Poyares explica também que a relação entre sono ruim e a saúde cognitiva é direta, e adverte: 
"Dormir menos de seis horas por noite pode antecipar o início da demência, especialmente após os 50 anos de idade. Nesse caso, questão não é apenas a quantidade de sono, mas a qualidade." 
Ela destaca que, com o avanço da idade, mudanças no padrão de sono são naturais, já que existe uma tendência biológica que leva a pessoa mais velha a dormir mais cedo e acordar mais cedo também. Somado a isso, acontecem mais interrupções do sono durante a noite. "Essas acordadas breves são naturais, desde que a pessoa volte a dormir rapidamente. Se ela acorda e não consegue voltar a descansar, precisamos investigar se não é um problema de insônia".
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Para manter uma rotina saudável de sono, a médica ressalta a importância da regularidade nos hábitos. "Manter horários fixos para dormir e acordar é fundamental. Isso ajuda a minimizar a fragmentação do sono", diz. Porém, ela desaconselha ficar longas horas na cama e sugere cochilos curtos durante o dia como um complemento adequado. "Ficar 12 horas seguidas na cama também não é saudável, o ideal é dormir entre sete a nove horas por noite."

Impactos no metabolismo

Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de 2023 indicou que 72% dos brasileiros têm algum distúrbio do sono, afetando não apenas o humor, mas também o metabolismo. Nesse sentido, a alimentação também pode influenciar.
"A falta de sono altera hormônios ligados à fome e à saciedade, como a grelina e a leptina, aumentando o apetite e dificultando a redução de gordura corporal. Pessoas que dormem menos de seis horas por noite têm mais propensão a ganhar peso, mesmo mantendo uma dieta equilibrada e praticando exercícios", explica a coordenadora de nutrição da Clínica Seven, Carolina Faiad.
Ela conclui destacando que os efeitos negativos vão além da balança, reduzindo a sensibilidade à insulina, comprometendo o metabolismo da glicose e favorecendo o acúmulo de gordura abdominal, considerado um dos principais fatores de risco para diabetes e doenças cardiovasculares: 
"Dormir bem é tão importante quanto se alimentar corretamente e treinar. O descanso noturno é o momento em que o corpo se recupera, regula hormônios e otimiza o metabolismo. Sem isso, qualquer processo de emagrecimento fica comprometido."

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