Foto: Envato Elements
Por Beatriz Duranzi
redacao@viva.com.brUma descoberta feita por cientistas brasileiros reacendeu as esperanças de quem sofre com lesões na medula espinhal, condição que pode levar à perda parcial ou total dos movimentos e, até hoje, não tem cura.
Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) desenvolveram uma proteína chamada polilaminina, criada a partir da placenta humana, que já demonstrou resultados animadores em estudos pré-clínicos e em aplicações experimentais em pacientes.
O estudo levou mais de 25 anos e os resultados foram apresentados na última terça-feira (9) em São Paulo.
A substância é uma versão de laboratório da laminina, proteína naturalmente presente no desenvolvimento embrionário e fundamental para a formação das conexões nervosas.
Quando aplicada diretamente no ponto da lesão, a polilaminina estimula os neurônios a criarem novas rotas, favorecendo a recuperação de movimentos.
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Um estudo publicado em agosto na revista Frontiers in Veterinary Science acompanhou seis cães paraplégicos, que já não respondiam a cirurgias ou fisioterapia.
Após a aplicação da proteína na medula, quatro animais voltaram a andar e apresentaram melhora na firmeza da marcha, enquanto os outros dois tiveram avanços mais discretos.
Os efeitos positivos foram monitorados por seis meses, sem registro de efeitos colaterais graves.
Além dos testes em animais, a polilaminina também foi aplicada experimentalmente em um pequeno grupo de voluntários no Brasil.
Entre os oito pacientes tratados, alguns recuperaram parte da mobilidade mesmo após anos de paralisia, com relatos que variaram desde pequenos movimentos até maior controle do tronco e até passos assistidos.
Um dos casos de destaque é o do bancário Bruno Drummond de Freitas, que recebeu o medicamento poucas horas após um acidente de carro. Ele conseguiu recuperar totalmente os movimentos, resultado considerado surpreendente pelos especialistas.
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Apesar dos avanços, o caminho até que a polilaminina chegue a hospitais e ao Sistema Único de Saúde (SUS) ainda é longo.
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), não há pedido de aprovação para uso clínico. O que está em análise é apenas a proposta de um ensaio clínico regulatório.
Para que o tratamento seja disponibilizado, será necessário concluir os estudos pré-clínicos em animais, iniciar as fases 1, 2 e 3 de testes em humanos, que avaliam segurança, eficácia e dosagem em larga escala, e, só então, solicitar o registro sanitário. Esse processo pode levar anos e exige análises rigorosas.
Os resultados iniciais mostram que a polilaminina tem potencial para revolucionar o tratamento de lesões medulares, até então consideradas irreversíveis.
No entanto, os pesquisadores reforçam que ainda não existe um medicamento disponível e que os próximos passos precisam ser percorridos com cautela.
Mesmo assim, a pesquisa brasileira já é vista como uma das mais promissoras no campo da regeneração da medula espinhal, uma área da medicina que há décadas busca respostas para devolver qualidade de vida a milhões de pacientes em todo o mundo.
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