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Vai passar as festas sozinho? Viva esse período com mais leveza

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É possível criar conexões ou transformar a data em uma celebração solitária. O importante é olhar para si e se acolher - Freepik
É possível criar conexões ou transformar a data em uma celebração solitária. O importante é olhar para si e se acolher
Por Thiago Lasco

21/12/2025 | 08h00

São Paulo, 21/12/2025 - A época de Natal e Ano Novo costuma ser feliz para a maioria das pessoas. É tempo de encontros familiares, confraternizações entre amigos, troca de presentes, momentos de reunião, alegria e celebração. Ou é assim que deveria ser, dentro do que foi idealizado em nossa cultura.
Só que essa experiência idealizada não é a realidade de todo mundo. Por razões variadas, muitas pessoas chegam ao fim do ano sem ter companhia para atravessar o período de festas. Alguns estão afastados da família, outros se separaram recentemente de seus antigos companheiros e há aqueles que já perderam todos os seus entes queridos.
Para quem ficou avulso pelo destino ou mesmo por opção, ver-se sozinho em um momento em que todo o resto da humanidade parece estar acompanhado e celebrando pode gerar um misto de emoções difíceis. Despertencimento, introspecção e melancolia são como intrusos que chegam para a festa, mesmo sem terem sido convidados. Nessa situação, é normal bater a tristeza.
Mas dá para ser diferente. Às vezes, é possível criar conexões com outras pessoas. Ou mesmo transformar essas datas em momentos de celebração solitária, buscando aquilo que traz conforto, acolhimento e prazer, seja em um passeio, uma boa leitura ou filme, ou aquela receita saborosa de que você tanto gosta. Para isso, é preciso olhar para dentro de si e se acolher.

Por que eu me sinto triste?

Se você tem a sensação de que fica mais triste ou sensível que o normal, isso não é por acaso. Natal e Réveillon são datas culturalmente associadas a celebrações em grupo, estar entre familiares ou amigos e viver momentos especiais. Isso gera uma expectativa, ainda que inconsciente, que pode levar a sentimentos de inadequação e frustração, caso você passe as festas sozinho, destoando desse modelo mais “tradicional” de alegria coletiva.
“Datas comemorativas ativam memórias e comparações e aumentam a cobrança por felicidade. A sensação de falta se intensifica, e isso é humano”, explica a psicóloga Djeane Moura.
O psicólogo Levy Cabral destaca que a solidão não é algo que surge apenas nessas datas, mas um processo que se vive. “É uma condição, temporária ou permanente, escolhida ou imposta pela vida. Não são as festas comemorativas que geram tristeza, elas apenas tornam mais evidente essa condição a que a pessoa já está submetida. Se eu me sinto só e isso é ruim para mim, essas datas são difíceis, especialmente quando eu não me vejo como responsável por tal situação. Por outro lado, se estou lidando bem com a minha solidão, essas datas já não me afetam tanto assim."

É minha primeira vez sozinho. Como enfrentar a novidade?

Se você sempre passou as festas na companhia do seu marido ou esposa, e neste ano essa pessoa não está mais ao seu lado, seja por falecimento ou separação, o Natal e o Ano Novo podem ser momentos desconfortáveis e dolorosos. A ausência do companheiro ainda está muito latente e, em meio à elaboração da perda, você terá que enfrentar a situação nova de atravessar esse período sozinho. 
Essa primeira vez sozinho pede gentileza consigo mesmo e autocompaixão. Respeite seu próprio ritmo, permita-se sentir e não exija de si mesmo ter força o tempo todo”, recomenda Moura.
Em outras palavras, tudo bem se você não estiver bem. Seja honesto com seus sentimentos e, quando sentir a falta da pessoa que partiu, permita-se lembrar dela e chorar. Falar sobre ela também pode ajudar muito no processo de luto, afirma Cabral.
“Não se acanhe. Muitas vezes deixamos de falar para não causar desconforto [a outras pessoas], mas isso geralmente faz mal. Quando falamos de alguém querido, temos a impressão que ele está mais próximo a nós; quando nos calamos, é como se ele não tivesse existido, o que aumenta bastante a dor da perda”, diz o psicólogo.

Será que eu preciso mesmo ficar sozinho?

Não, não precisa. Sair do isolamento e sentir-se menos sozinho pode ser mais simples do que parece. Nem sempre é preciso tomar grandes atitudes para isso. “Enviar uma mensagem, fazer um convite simples ou aceitar algo pequeno já são formas de gerar conexão. Nem toda presença precisa ser intensa para gerar pertencimento”, defende Moura.
Considere, também, que ficar sozinho pode não ser ruim. Tudo depende de como você está se sentindo. “Às vezes estamos passando por um momento muito bom em nossa solidão, então passar o Natal em casa, maratonando uma série e comendo algo de que gosta pode ser algo muito bom e realizador”, pondera Cabral. 
Por outro lado, se você está sofrendo por conta dessa solidão, esse é o momento de olhar para dentro e entender sua real necessidade, de acordo com o psicólogo. Se gostaria de passar a data com uma pessoa especial de quem você está afastado, a proximidade das festas pode ser o gancho para uma reaproximação: “Diga: ‘sinto sua falta, será que podemos conversar um pouco?’”, sugere. 
“Se não existe essa pessoa especial, escolha alguém com quem tem alguma intimidade e ofereça sua companhia: ‘o que vai fazer nesse Natal? Tem espaço para mais uma sobremesa? Eu topo cozinhar’. Não custa tentar”. 

Como me ocupar para passar o tempo?

O primeiro passo é entender o que você realmente está a fim de fazer. “Movimente-se no seu ritmo: vá caminhar, cozinhar, ler, escrever, sair um pouco. O objetivo não é evitar o sentir, mas sustentá-lo com cuidado”, indica Moura.
É importante não se forçar a nada, desvencilhando-se de cobranças, sejam elas internas ou externas. Você não precisa ocupar seu tempo ou transformar essa data em um dia produtivo. “Às vezes, ir a encontros ou atividades sem ter vontade pode causar aquela sensação de estar sozinho na multidão, que faz mais mal do que bem”, observa Cabral.
Se você sentir que ficaria melhor estando com outras pessoas, experimente seguir as sugestões do capítulo anterior. Mas, se achar que ficará bem sozinho, desfrute de sua própria companhia sem culpa
“Permita-se fazer desse dia uma festa particular. Escolha seu cardápio predileto, sua atividade preferida e aproveite o dia a sua maneira. Tenho pacientes que, nessas datas, gostam de cozinhar algo especial e comer assistindo à sua série favorita. Assim eles parecem ter um dia mais feliz do que teriam se estivessem em outros lugares”, conta o psicólogo.

Dá para ressignificar a solidão? Como transformar o tempo sozinho em algo positivo?

Ressignificar a solidão é algo não apenas possível, mas também necessário. É isso que defende o psicanalista Henrique Buss.
“Temos que entender que vamos encarar a solidão em vários momentos da vida. É preciso lidar com ela, sem enxergá-la como vilã ou tentar eliminá-la. Aprender a sustentar esse tempo sozinho é fundamental para a gente se estruturar durante todo o resto da vida”, ele avisa.
É nessa ideia que entra o conceito de solitude, como uma construção que permite uma relação mais saudável consigo mesmo, sem depender tanto da presença do outro
“A solitude não é a ausência de vínculos ou nossa indiferença quanto a eles, mas sim a possibilidade de estar consigo sem que isso seja vivido como um vazio insuportável, uma desqualificação ou um abandono. A solitude não nasce da ausência do outro, mas sim da possibilidade de sustentar a própria solidão. Não é tornar a solidão alegre ou produtiva, mas permitir que ela exista sem culpa, sem pressa e sem a sensação de que você está fracassado por conta disso”, define Buss.
Levy Cabral ressalta que solidão e solitude são condições que vão se intercalando e possuem tempo variável dentro de nós. Não são pontos de chegada, mas partes do mesmo caminho. Em alguns momentos, estar só é dolorido e, em outros, pode ser um deleite.
“O maior perigo é transformar esse estado mutável em algo permanente, pois isso atrapalha nossa capacidade de adaptação e nos torna mais frágeis às dores da vida. Se entendemos que tudo é impermanente, sabemos que qualquer momento, feliz ou triste, irá passar. Isso pode ser um começo para lidar melhor com esse processo de estar só”, acredita.
Para Djeane Moura, a experiência pode ser positiva, mas pode ser necessário buscar ajuda. “Estar só pode virar encontro consigo: silêncio, autocuidado e respeito ao próprio tempo também são força. Mas, se o sofrimento estiver intenso ou paralisante, buscar um psicólogo é um passo importante de autocuidado”, conclui a psicóloga.

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