Nossas provocações aos EUA para negociações não tiveram resposta formal, diz Haddad

Foto: Diogo Zacarias/Ministério da Fazenda

Ministro Fernando Haddad considera que é muito difícil saber hoje qual decisão vai ser tomada - Foto: Diogo Zacarias/Ministério da Fazenda
Ministro Fernando Haddad considera que é muito difícil saber hoje qual decisão vai ser tomada

Por Flávia Said e Cícero Cotrim, da Broadcast

redacao@viva.com.br
Publicado em 29/07/2025, às 16h30
Brasília, 29/07/2025 - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que há mais tópicos em relação à investigação americana sobre práticas comerciais do Brasil do que os que constam da carta publicada em redes sociais pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ele lembrou que as provocações feitas pelo governo aos EUA ainda não foram respondidas.
"Por isso que eu te digo: é muito difícil hoje, antes de saber a decisão do governo dos Estados Unidos, qual decisão vai ser tomada, nós anteciparmos qualquer medida", disse Haddad, durante entrevista à CNN Brasil.
Leia mais: Em carta, governo cobra resposta dos EUA sobre pedido de negociação feito em maio
Por causa dessa incerteza, é necessário ir adotando medidas eventualmente necessárias progressivamente, com o objetivo de mitigar os efeitos deletérios das tarifas sobre a economia brasileira, ele disse. Citando números da economia, como o crescimento do PIB e o desemprego na mínima histórica, ele reforçou que é importante "proteger essas conquistas."
Haddad ainda relatou que está trabalhando para dialogar com as autoridades americanas desde o anúncio das tarifas de 10%. Ele disse ter se encontrado com o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, por intermédio do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, em maio. E negou que o governo tenha subestimado o risco da política comercial de Trump, chamando atenção para uma "mudança de postura" dos EUA.
"De maio a julho, ele mudou completamente de postura em relação ao mundo. O que o México está sofrendo é muito mais grave do que o Brasil está sofrendo. O que o Canadá está sofrendo é muito mais grave do que o Brasil está sofrendo", disse.
Ele reconheceu que o País tem desvantagem para negociar com os EUA, mas destacou que mesmo outros blocos ou países ricos, como União Europeia e Japão, também passam por isso. E afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está disposto a conversar com Trump, mas não a passar por uma humilhação.
"Você não vai querer que o presidente Lula se comporte como o Bolsonaro se comportava, abanando o rabo e falando 'I love you', batendo continência", disse Haddad. "Se houver uma reunião entre os presidentes, um telefonema entre os presidentes, nós temos que ter a segurança que não vai acontecer com o presidente Lula o que aconteceu com o Zelensky [Volodymyr Zelenski, presidente da Ucrânia], que passou um papelão na Casa Branca." 

Pisando em ovos

Segundo Haddad, todo o mundo está "pisando em ovos" para saber o que o governo dos Estados Unidos quer. Ele afirmou que é preciso compreender isso para chegar a qualquer proposta de negociação em relação à política comercial.
O ministro reforçou que não foi o Brasil que criou um problema com os EUA que tenha levado ao anúncio das tarifas de 50%. Ele afirmou que o governo americano "virou a mesa", lembrando que, durante o governo Biden, teve "inúmeras conversas" com a então secretária do Tesouro, Janet Yellen, buscando parceria com os EUA.
O ministro aproveitou para criticar a imprensa brasileira, afirmando que ela está defendendo menos o Brasil do que a imprensa americana.

Inflação

As tarifas de 50% podem ainda levar a uma surpresa para baixo na inflação, acrescentou Haddad. Ele lembrou que, antes, previa um ajuste gradual das projeções do mercado perto ou abaixo de 5%.
 "Os informes que estou recebendo do comportamento de preços nas últimas duas semanas, justamente naqueles que estão sendo alvo da taxação fora, sobretudo carne, frutas, tem havido uma percepção de que os preços do varejo, agora, estão caindo", disse Haddad.
Falando sobre o "plano de contingência" em relação às tarifas, Haddad disse que o "ponto número 1" é proteger empregos. Indagado, ele negou que haja qualquer consideração sobre isenções fiscais para empresas.

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