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Por Beatriz Duranzi
redacao@viva.com.brSão Paulo, 03/08/2025 - Uma pesquisa brasileira reforça o alerta sobre os perigos do consumo excessivo de alimentos ultraprocessados, e, desta vez, com foco específico na saúde das mulheres.
O estudo, conduzido por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), analisou dados de mais de 102 mil brasileiras e descobriu que aquelas que seguem uma alimentação menos natural têm maior risco de desenvolver doenças crônicas e de apresentar uma visão negativa sobre a própria saúde.
Publicado na Revista Epidemiologia e Serviços de Saúde, o estudo de 2021 utilizou informações do Vigitel (Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), coletadas entre 2018 e 2021 em todas as capitais do país e no Distrito Federal.
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Ao comparar os hábitos alimentares das mulheres com a “Regra de Ouro” do Guia Alimentar para a População Brasileira, que orienta a base da alimentação em alimentos in natura e minimamente processados, evitando ultraprocessados, os resultados foram claros:
Mulheres com alta adesão à alimentação saudável tiveram:
Já aquelas com adesão moderada também apresentaram benefícios:
Em contraste, mulheres que relataram maior consumo de ultraprocessados, como refrigerantes, biscoitos recheados, embutidos e comidas prontas, apresentaram maior vulnerabilidade a essas condições.
O estudo também apontou que as desigualdades socioeconômicas impactam diretamente a qualidade da alimentação das brasileiras. Segundo os dados analisados, as mulheres que compõem o grupo com padrões alimentares menos saudáveis tendem a:
Já aquelas com maior adesão às diretrizes saudáveis são, em sua maioria:
Para a professora Taciana Maia de Sousa, da UERJ e coautora do estudo, essa disparidade está ligada a barreiras estruturais de gênero.
“Embora as mulheres sejam frequentemente associadas a comportamentos mais saudáveis, a realidade é que muitas enfrentam dificuldades econômicas que limitam o acesso a alimentos de qualidade”, afirma.
Ela destaca ainda que essa desigualdade aumenta o risco de insegurança alimentar, especialmente em famílias chefiadas por mulheres, que já são maioria nos lares brasileiros.
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O levantamento confirma uma tendência preocupante: entre 2017 e 2021, houve um aumento expressivo nos índices combinados de obesidade, hipertensão e diabetes entre mulheres no Brasil. A prevalência, que era de 5,5%, subiu para 9,6% em poucos anos.
Segundo os pesquisadores, esse crescimento está ligado a mudanças nos hábitos alimentares, com redução de refeições tradicionais, como arroz, feijão e legumes, e aumento de alimentos prontos e industrializados.
A solução vai além da conscientização individual. O estudo reforça a importância de políticas públicas que facilitem o acesso a alimentos saudáveis e desestimulem o consumo de ultraprocessados. Entre as sugestões estão:
As doenças crônicas não transmissíveis, como obesidade, hipertensão e depressão, continuam crescendo no Brasil, e a alimentação tem papel central nessa equação.
Em um país com alta desigualdade social e insegurança alimentar, entender como gênero, classe, raça e acesso moldam a saúde das mulheres é crucial para criar estratégias de combate eficazes.
A valorização da comida de verdade, preparada com alimentos frescos e minimamente processados, pode ser uma ferramenta poderosa de saúde pública, especialmente quando essa mudança é apoiada por políticas amplas de acesso e inclusão.
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