Consumo de ultraprocessados afeta mais a saúde das mulheres; entenda

Foto: Envato Elements

Uma dieta rica em alimentos ultraprocessados pode trazer uma série de problemas de saúde - Foto: Envato Elements
Uma dieta rica em alimentos ultraprocessados pode trazer uma série de problemas de saúde

Por Beatriz Duranzi

redacao@viva.com.br
Publicado em 03/08/2025, às 09h17

São Paulo, 03/08/2025 - Uma pesquisa brasileira reforça o alerta sobre os perigos do consumo excessivo de alimentos ultraprocessados, e, desta vez, com foco específico na saúde das mulheres

O estudo, conduzido por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), analisou dados de mais de 102 mil brasileiras e descobriu que aquelas que seguem uma alimentação menos natural têm maior risco de desenvolver doenças crônicas e de apresentar uma visão negativa sobre a própria saúde.

Publicado na Revista Epidemiologia e Serviços de Saúde, o estudo de 2021 utilizou informações do Vigitel (Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), coletadas entre 2018 e 2021 em todas as capitais do país e no Distrito Federal.

Leia também: Quais cidades brasileiras mais consomem ultraprocessados? Veja o ranking

O que o estudo revelou?

Ao comparar os hábitos alimentares das mulheres com a “Regra de Ouro” do Guia Alimentar para a População Brasileira, que orienta a base da alimentação em alimentos in natura e minimamente processados, evitando ultraprocessados, os resultados foram claros:

Mulheres com alta adesão à alimentação saudável tiveram:

  • 28% menos chance de desenvolver obesidade
  • 15% menos risco de hipertensão
  • 31% menor probabilidade de ter depressão
  • 45% menos chance de avaliar sua saúde como ruim

Já aquelas com adesão moderada também apresentaram benefícios:

  • 14% menos risco de obesidade
  • 28% menos chance de relatar autoimagem negativa da saúde

Em contraste, mulheres que relataram maior consumo de ultraprocessados, como refrigerantes, biscoitos recheados, embutidos e comidas prontas, apresentaram maior vulnerabilidade a essas condições.

Alimentação e desigualdade: a influência dos fatores sociais

O estudo também apontou que as desigualdades socioeconômicas impactam diretamente a qualidade da alimentação das brasileiras. Segundo os dados analisados, as mulheres que compõem o grupo com padrões alimentares menos saudáveis tendem a:

  • Ter menos de 35 anos
  • Possuir escolaridade entre 9 e 11 anos
  • Ser negras ou pardas
  • Viver sem companheiro

Já aquelas com maior adesão às diretrizes saudáveis são, em sua maioria:

  • Mulheres com mais de 50 anos
  • Com ensino superior completo
  • E que vivem com parceiro

Para a professora Taciana Maia de Sousa, da UERJ e coautora do estudo, essa disparidade está ligada a barreiras estruturais de gênero. 

“Embora as mulheres sejam frequentemente associadas a comportamentos mais saudáveis, a realidade é que muitas enfrentam dificuldades econômicas que limitam o acesso a alimentos de qualidade”, afirma. 

Ela destaca ainda que essa desigualdade aumenta o risco de insegurança alimentar, especialmente em famílias chefiadas por mulheres, que já são maioria nos lares brasileiros.

Leia também: Veja lista do que comer - ou evitar - para manter o coração saudável e viver mais

Do prato à doença: o impacto direto na saúde

O levantamento confirma uma tendência preocupante: entre 2017 e 2021, houve um aumento expressivo nos índices combinados de obesidade, hipertensão e diabetes entre mulheres no Brasil. A prevalência, que era de 5,5%, subiu para 9,6% em poucos anos.

Segundo os pesquisadores, esse crescimento está ligado a mudanças nos hábitos alimentares, com redução de refeições tradicionais, como arroz, feijão e legumes, e aumento de alimentos prontos e industrializados.

O que pode ser feito?

A solução vai além da conscientização individual. O estudo reforça a importância de políticas públicas que facilitem o acesso a alimentos saudáveis e desestimulem o consumo de ultraprocessados. Entre as sugestões estão:

  • Redução de impostos sobre alimentos in natura
  • Tributação mais alta para ultraprocessados
  • Promoção da segurança alimentar em todo o país
  • Apoio a mulheres em situação de vulnerabilidade socioeconômica

Por que isso importa agora?

As doenças crônicas não transmissíveis, como obesidade, hipertensão e depressão, continuam crescendo no Brasil, e a alimentação tem papel central nessa equação. 

Em um país com alta desigualdade social e insegurança alimentar, entender como gênero, classe, raça e acesso moldam a saúde das mulheres é crucial para criar estratégias de combate eficazes.

A valorização da comida de verdade, preparada com alimentos frescos e minimamente processados, pode ser uma ferramenta poderosa de saúde pública, especialmente quando essa mudança é apoiada por políticas amplas de acesso e inclusão.

Comentários

Política de comentários

Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.

Últimas Notícias