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Por Bianca Bibiano
[email protected]Você sente que acorda mais vezes durante a noite? Ou que seu sono parece mais leve do que há alguns anos? Com o passar do tempo, muitas pessoas percebem mudanças nesse padrão e, ao passar dos 50 anos, dormir pode ser um desafio.
A boa notícia é que isso não significa, necessariamente, um problema grave de saúde. Entender as mudanças do sono na maturidade pode ajudar a melhorar esse aspecto e, consequentemente, a qualidade de vida.
Após os 50 anos, o cérebro passa por um processo contínuo de maturação e envelhecimento, levando a uma redução na proporção do sono profundo e um aumento dos estágios mais superficiais.
Segundo Fernando Azevedo, pneumologista e ex-presidente regional da Academia Brasileira do Sono, isso leva a uma qualidade de sono ligeiramente diferente e a uma necessidade menor de dormir.
“Enquanto um jovem pode precisar descansar de oito a nove horas por noite, a maioria das pessoas acima dos 50 anos se adapta bem com sete a sete horas e meia. A proporção dos diferentes estágios também se altera, o que pode impactar a capacidade de aprendizado e retenção de informações”.
Essas mudanças não significam que o sono deixa de ser reparador com a maturidade, mas sim que ele se transforma, explica Azevedo. Além disso, fatores biológicos, psicológicos e sociais também influenciam.
"Qualidade do sono é um dos pilares para envelhecimento saudável das mulheres", diz Helena Hachul, do Instituto do Sono - Foto: Arquivo pessoal
O envelhecimento não causa, por si só, um sono insatisfatório, explica o médico. O que ocorre é que fatores modernos, como ansiedade, uso excessivo de ansiolíticos e antidepressivos, exposição à luz azul de telas e exigências sociais impactam negativamente o descanso noturno.
"Pessoas que vivem em ambientes mais tranquilos, com menos estresse, geralmente têm uma qualidade melhor nesse aspecto”, destaca.
Mas o que é o tal do sono reparador? Helena Hachul, chefe do Setor Sono na Mulher na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e pesquisadora do Instituto do Sono, faz uma analogia simples para explicar o conceito:
"Se você fosse um celular, deveria acordar com 100% de bateria. Se você acorda cansado, significa que seu sono não cumpriu a função de restaurar corpo e mente, consolidando memórias e emoções”.
Agora, se isso for constante, explica a médica, aparecem consequências como irritabilidade, déficit de atenção, maior propensão a acidentes, alterações na imunidade e na pele.
Nas mulheres, essa mudança de arquitetura de sono se transforma de maneira mais marcante, como explica Helena Hachul, que é ginecologista.
"Há algumas décadas, os estudos nesse campo costumavam excluir mulheres, porque suas variações hormonais eram vistas como um fator complicador na pesquisa. Mas quando começamos a estudar esse aspecto do ponto de vista feminino, percebemos que cerca de 60% delas sofrem com problemas ao dormir após a menopausa", afirma.
Os principais fatores são as mudanças hormonais, as ondas de calor conhecidas como fogachos, as alterações psicológicas, a ansiedade, quadros de bexiga flácida e ganho de peso. "Tudo isso contribui para um sono mais fragmentado e não reparador", reforça.
O tratamento depende de cada caso. Primeiro, deve ser feita uma avaliação clínica completa para identificar outras condições que possam afetar o sono. Depois, a equipe médica analisa rotina, alimentação, atividade física e fatores psicossociais, para só então decidir o melhor tratamento.
Em alguns casos relacionados à menopausa, a reposição hormonal é indicada, mas, segundo a médica, não deve ser vista como única solução. “Também precisamos considerar bons hábitos, como dieta equilibrada, hidratação adequada, rotina de sono, atividade física e até meditação”, pondera.
"O nosso corpo tem um ritmo biológico e precisamos respeitá-lo. Ao se aposentar, algumas pessoas deixam de ter uma rotina estruturada e acabam tendo o sono prejudicado. O ideal é manter um dia ativo, com horários regulares para dormir e acordar, exposição à luz natural e atividades prazerosas."
Em seu consultório, Fernando Azevedo conta que recebe muitos pacientes acima dos 50 anos com queixas de insônia, mas, quando investiga mais de perto, descobre que o ciclo do sono apenas mudou. É um fenômeno comum, chamado "avanço de fase". Isso significa que a pessoa começa a sentir sono mais cedo e acorda mais cedo.
O médico cita como exemplo um idoso que dorme às 20h e acorda às 4h, e por isso pode achar que tem insônia, mas, na realidade, já completou o tempo de descanso que seu organismo precisa.
Nesses casos, ele recomenda duas opções: adaptar a rotina para acordar mais cedo e aproveitar o dia ou tentar postergar a hora de dormir.
“Prescrever medicamentos para prolongar o sono é o pior caminho nesse caso, pois pode causar desorientação ao acordar e prejudicar a memória, além de outros efeitos colaterais dessas medicações. Respeitar o ritmo biológico de cada um é essencial.”
Ele pontua ainda que outros fatores podem impactar negativamente a qualidade das noites dormidas, levando a uma falsa percepção de insônia, como a ansiedade, o uso excessivo de ansiolíticos e antidepressivos, a exposição a telas à noite e a falta de uma rotina estruturada.
Muitas pessoas acreditam que têm insônia apenas por dormirem mal em algumas noites, mas para ser considerada crônica, a dificuldade para iniciar ou manter o sono precisa ocorrer pelo menos três vezes por semana e por um período mínimo de três meses.”
Para dormir melhor, os dois especialistas recomendam investir na chamada "higiene do sono", conjunto de práticas que favorecem um descanso de qualidade. Algumas das principais orientações incluem:
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