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Por Luísa Giraldo, especial para o Viva
redacao@viva.com.brSão Paulo, 27/10/2025 - A menopausa é uma realidade universal na vida das mulheres, especialmente após os 40 anos. No entanto, a saúde feminina foi sistematicamente negligenciada ao longo da história. Este ano, um movimento liderado por acadêmicos, médicos e líderes internacionais propõe uma mudança radical: a iniciativa “Power in Menopause” (O Poder na Menopausa, em tradução livre).
Lançada na sexta-feira, 24, a declaração global da iniciativa visa "romper o silêncio, acabar com a negligência e exigir ações coordenadas" para transformar a menopausa em prioridade para a saúde pública e um imperativo econômico. Em uma plataforma digital, o projeto desconstrói a perspectiva do processo biológico como doença e garante que todas as mulheres merecem “melhores ciência, cuidado e apoio” durante essa transição.
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O cerne da campanha é o diagnóstico de uma falha sistêmica mundial. O projeto caracteriza a menopausa como uma transição de uma década que afetará mundialmente 1,2 bilhão de mulheres até 2030.
Além dos desafios do campo na saúde, a campanha destaca o impacto na produtividade global: a menopausa não tratada é uma questão econômica. Pesquisas citadas concluíram que os sintomas da menopausa levaram quase uma em cada quatro mulheres empregadas a considerar ou a abandonar seus empregos.
Quatro a cada cinco mulheres experimentam sintomas como ondas de calor, mudanças de humor, problemas de sono e perda de densidade óssea, afirma a entidade articuladora. No entanto, a maioria é forçada a tolerar os desconfortos de forma solitária.
A declaração "Power in Menopause" identifica quatro motivos que contribuem para a crise silenciosa:
A iniciativa reconhece que muitas mulheres recebem diagnósticos equivocados devido ao despreparo profissional.
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O lançamento da iniciativa “Power in Menopause” ocorre em um período emblemático: durante o Mês de Conscientização da Menopausa, em outubro. A data foi criada pela International Menopause Society (IMS) com o objetivo de ser um lembrete global de empoderamento, desconstruir preconceitos e romper ciclos de desinformação sobre a saúde feminina.
A declaração global da campanha é encabeçada por um grupo diversificado de líderes. Essa força-tarefa é multidisciplinar e reúne nomes influentes da saúde mundial, área acadêmica, diplomacia e mídia. Figuras de grande destaque incluem a ex-ministra de Moçambique Graça Machel, a diretora de Meio Ambiente, Mudanças Climáticas e Saúde da Organização Mundial de Saúde (OMS), María P. Neira, e a ex-cientista chefe da OMS, Soumya Swaminathan.
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Para reforçar a base científica, o painel conta com acadêmicas como Núria Casamitjana Badia, da Universidade de Barcelona, na Espanha, e Cynthia Berkley, da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos. O objetivo central da união de especialistas é transformar a abordagem sobre o tema e assegurar que a menopausa seja vista e tratada como uma questão de igualdade, social e econômica.
O movimento “Power in Menopause” transformou sua missão em um apelo global à ação ao direcionar exigências concretas aos principais tomadores de decisão em quatro frentes:
A iniciativa cobra que a OMS adote uma abordagem de “curso de vida” para a menopausa ao estabelecer diretrizes claras e baseadas em evidências que possam orientar políticas públicas em escala global.
Simultaneamente, os governos nacionais são convocados a criar diretrizes internas, investir em pesquisa e, sobretudo, garantir que os tratamentos comprovados sejam cobertos pelos planos de saúde e acessíveis a todas as mulheres.
No âmbito da saúde, as instituições de treinamento e associações profissionais devem modernizar os currículos para refletir a ciência mais recente. O objetivo é preparar os médicos para um aconselhamento proativo com as pacientes.
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Por fim, no setor privado, as corporações são convocadas a incluir a menopausa nas políticas de saúde corporativa, treinamento e ambientes de trabalho como forma de reconhecimento do papel essencial dessa fase biológica, para que a maior parcela da força de trabalho feminina continue a prosperar.
A mensagem final da campanha é enfática: o sofrimento silencioso de metade da população mundial não pode mais ser tolerado. A iniciativa visa, portanto, construir um mundo em que a menopausa seja encarada com compreensão, tratamento e poder, e não com penalidade e dor.
Para ler e assinar a declaração global, acesse o site oficial da campanha Power in Menopause.
A menopausa é definida pela OMS como o marco biológico que encerra a fase reprodutiva feminina. A relevância da condição foi reconhecida formalmente em 2022, com sua inclusão na Classificação Internacional de Doenças (CID). O movimento ajudou a enfatizar a importância da conscientização sobre os sintomas físicos e mentais.
Apesar da conexão direta, é importante diferenciar a menopausa do climatério. Termo mais conhecido pela população, ela descreve o evento de ausência da menstruação por 12 meses consecutivos. As mulheres brasileiras costumam entrar nessa fase entre 48 e 50 anos.
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Já o climatério, o período mais amplo dessa transição, abrange dos 40 aos 65 anos. Ele inclui a perimenopausa, marcada pelas manifestações iniciais de queda hormonal, como ciclos irregulares, e se estende até a pós-menopausa.
Os sinais dessa transição são vastos e variam entre as mulheres. Os sintomas mais reportados englobam ondas de calor, suores noturnos, alterações de sono, ressecamento vaginal e diminuição da libido. Também são comuns mudanças de humor, ganho de peso e dificuldade de concentração, fatores que impactam diretamente a qualidade de vida e a produtividade.
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