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Por Beatriz Duranzi
redacao@viva.com.brSão Paulo, 05/08/2025 - O que faz uma pessoa viver mais de 100 anos com saúde e autonomia? A ciência tem buscado essa resposta há décadas, e um dos estudos mais fascinantes sobre o tema parte das chamadas Zonas Azuis, regiões do mundo onde a longevidade não é exceção, mas parte do cotidiano.
O conceito foi criado pelo pesquisador norte-americano Dan Buettner, que passou anos viajando pelo mundo para entender o que essas comunidades têm em comum. Ele mapeou cinco locais com altíssima concentração de centenários e qualidade de vida impressionante entre idosos. O resultado está em uma série de livros, documentários e iniciativas voltadas para o envelhecimento saudável.
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Mas o mais curioso é que essas regiões estão espalhadas pelos quatro cantos do planeta: Sardenha (Itália), Icária (Grécia), Okinawa (Japão), Loma Linda (EUA) e Nicoya (Costa Rica).
Culturas, religiões e costumes completamente distintos, mas que compartilham fatores-chave no estilo de vida. E se você pensa que viver mais tem a ver com genética, os dados mostram outra realidade.
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Segundo o Danish Twin Study, um dinamarquês que investigou gêmeos idênticos, apenas 20% da longevidade é determinada por herança genética. Os outros 80% vêm do ambiente e dos hábitos de vida.
A boa notícia? Isso significa que é possível aprender com essas populações e aplicar algumas de suas práticas em qualquer lugar do mundo, inclusive no Brasil.
Com base nas observações de Buettner, nove pilares se repetem nas comunidades mais longevas do planeta. Eles envolvem movimento natural, conexão social, alimentação equilibrada e propósito de vida.
Nada de academia ou maratona: os longevos dessas regiões se exercitam de forma natural no dia a dia. Caminham muito, sobem ladeiras, cuidam do jardim, carregam lenha, fazem tarefas domésticas.
A prática de parar de comer quando se está cerca de 80% satisfeito ajuda a evitar excessos. Esse hábito, comum em Okinawa, também está alinhado ao conceito de comer com atenção plena.
A base alimentar nas zonas azuis é rica em legumes, verduras, frutas, grãos e castanhas. A carne está presente, mas com moderação, quase como um acompanhamento ocasional.
Nas zonas mediterrâneas, o vinho faz parte da cultura, mas sempre em doses pequenas e geralmente em contexto social, acompanhando refeições e conversas.
Ter um motivo para levantar da cama todos os dias, chamado de ikigai no Japão ou plan de vida na Costa Rica, está ligado a uma vida mais longa e feliz.
Todas as zonas azuis valorizam momentos de pausa, seja por meio de meditação, orações, cochilos ou conversas sem pressa.
A fé, independentemente da religião, é um pilar comum. Participar de comunidades religiosas ou manter uma conexão espiritual traz mais serenidade e longevidade.
Famílias multigeracionais são a regra nas zonas azuis. Os idosos não são isolados, mas respeitados, cuidados e incluídos no convívio diário.
Conexões sociais saudáveis fazem bem à saúde. E não apenas emocional: amigos com bons hábitos influenciam positivamente nosso próprio comportamento.
Icária, Grécia
Na pequena ilha grega, a longevidade é acompanhada de baixíssimos índices de demência. A dieta segue os moldes mediterrâneos, com muito azeite, ervas medicinais e refeições lentas, sempre em grupo. Os moradores valorizam o sono, as festas e o senso de comunidade.
Okinawa, Japão
Lar das mulheres mais longevas do mundo, Okinawa destaca-se por conceitos como ikigai (propósito) e moai (rede de apoio social). A dieta inclui tofu, chás, batata-doce roxa e muito movimento físico ao longo do dia.
Sardenha, Itália
Foi lá que surgiu o termo “zona azul”, em vilarejos montanhosos onde os homens vivem mais de 100 anos em plena atividade. A dieta tem pão artesanal, leite de cabra, vinho tinto e uma forte tradição familiar. Os idosos não se aposentam: apenas mudam de função.
Loma Linda, EUA
Uma comunidade adventista na Califórnia que vive até 10 anos mais do que a média dos americanos. A fé, a alimentação à base de vegetais, o descanso semanal e o foco na natureza explicam parte desse fenômeno.
Nicoya, Costa Rica
Na América Latina, Nicoya se destaca por uma dieta tradicional rica em milho nixtamalizado, frutas tropicais e água com alto teor de minerais. O dia começa cedo, com trabalho no campo, pausas generosas e foco na vida simples.
Embora o Brasil esteja longe de figurar entre as zonas azuis, os aprendizados desses lugares podem (e devem) ser incorporados ao nosso cotidiano.
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Comer de forma mais natural, cultivar laços afetivos, reduzir o estresse, viver com propósito e manter-se ativo são práticas acessíveis a todos, independentemente da idade ou da localização.
Se a longevidade parece um privilégio, talvez seja hora de encará-la como um projeto de vida. Afinal, envelhecer bem é mais do que viver muito: é viver com qualidade, autonomia e significado.
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