São Paulo, 24/10/2025 - Foi apenas quando recebeu um diagnóstico de câncer, em 2024, que a executiva Julia Pinheiro, diretora de inovação do Grupo São Lucas, conseguiu compreender na pele a fragmentação do sistema de saúde.
Após investigação, ela atribuiu a doença ao seu estilo de vida, já que durante os cinco anos antes do
câncer ela vivenciara um período intenso de estresse, com foco apenas em fatores externos e pouco olhar para si. Com a remissão, Pinheiro decidiu provocar a empresa de saúde na qual já atuava há mais de 20 anos para criar uma nova solução que olhasse os pacientes de um modo mais completo.
"Falamos muito de saúde integral, mas na prática, a maioria dos atendimentos acontece de forma não integrada. Por vezes, a pessoa acaba visitando cinco profissionais diferentes, ou até mais, e cada um fala uma coisa, transferindo ao paciente a decisão sobre qual encaminhamento vai tomar", disse em entrevista ao Viva.
Ao estudar as opções disponíveis no mercado brasileiro, percebeu que não adiantaria um projeto integrado que fosse focado apenas no cuidado de uma doença.
Cerca de 75% dos casos de câncer são derivados são causados por estilo de vida, portanto, evitáveis com prevenção e promoção de hábitos saudáveis. Mas os hospitais e planos de saúde não olham para isso, estão muito focados na sinistralidade".
O dado citado por ela é do Instituto Nacional do Câncer (INCA).
Para se aprofundar no tema, Pinheiro começou a estudar
gerontologia na pós-graduação do Hospital Albert Einstein, na qual pesquisa a longevidade e o que leva algumas pessoas a serem mais saudáveis que outras ao longo da vida. Criou então, em parceria com o fundador do Grupo São Lucas, o médico Adelson Alves, uma solução baseada no conceito de
medicina do tempo, ainda inédita no Brasil, que olha para a prevenção e a promoção de hábitos por faixa etária.
Medicina do tempo
O conceito de medicina do tempo orienta para o mapeamento dos fatores de risco e desafios comuns à cada faixa etária, que traz necessidades e objetivos específicos. Por exemplo:
•Aos 20+: minimizar problemas ligados a estresse, falta de sono e postura, com construção de hábitos saudáveis.
•Aos 30+: equilibrar a saúde com o avanço da carreira e da família, prevenindo casos de saúde mental e burnout.
•Aos 40+: compreender mudanças hormonais e prevenir doenças crônicas.
•Aos 50+: incentivar a adaptação às mudanças da vida familiar e profissional, com revisão de prioridades.
•Aos 60+: garantir a autonomia e a vitalidade do paciente.
•Aos 70+: além de incentivar a autonomia, intensificar a busca por propósitos.
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No entanto, segundo a diretora de inovação, a personalização é a chave da proposta para ganhar efetividade. "A avaliação 360° dos pacientes nos permite ir além dos fatores comuns de uma eventual doença, e mergulhar nas características individuais de cada cliente. Se uma pessoa de 30 anos tem um histórico familiar de doença cardíaca, seu programa será diferente de outro cliente da mesma idade sem esse risco", conclui.
Chamado de Age&Health Center, o espaço será inaugurado segunda-feira, 27, em São Paulo e vai oferecer 10 especialidades ligadas à medicina do estilo de vida, partindo de um olhar para o que é relevante em cada faixa etária, dos 20 aos 100 anos ou mais de idade. "Tudo parte de uma análise inicial ampla do paciente, identificando o que é importante para sua saúde a partir do seu estilo de vida em cada faixa etária, mostrando que não é a idade que o define, mas sim o propósito", explica.
A princípio, o espaço vai atender apenas pacientes particulares, mas Pinheiro diz que a empresa já atua para patentear o método de atendimento e levar a outros espaços de cuidado, incluindo instituições de longa permanência,
sênior livings e outros empreendimentos de saúde.
"A ideia é deixarmos de ser reativos para nos tornarmos mais preventivos no autocuidado de saúde e, assim, olharmos para uma longevidade ativa possível", completa.